
Esta linha de pesquisa tenta entender as origens e o valor dos usos da noção de perspectiva e de perspectivismo na história da metafísica ocidental. Hoje, o perspectivismo está passando por um renascimento, principalmente graças às ciências sociais e à proposta de uma “virada ontológica da antropologia” (Viveiros de Castro, Bruno Latour, Philippe Descola). Antes disso, o que a presente linha de pesquisa procura, primeiramente, é estudar as interpretações da emancipação da “perspectiva” fora de suas origens medievais, a saber, da metafísica e da física da perspectiva naturalis (da ótica), a dos filósofos “perspectivistas” que, herdando as obras de Ibn al-Haytham entre os séculos XII e XIV, pensaram a luz e a visão (Robert Grosseteste, Roger Bacon, John Peckham, Erasme Vitellion, Blaise de Parme) até a estética do Renascimento graças a invenção da perspectiva artificial pelos pintores e teóricos do século XV (Leon Battista Alberti, Piero della Francesca, Leonardo da Vinci, Albrecht Dürer). Mas, em vez de escrever uma história da perspectiva mais, ela procura interrogar o significado problemático e o valor filosófico dessa integração da perspectiva na gramática da metafísica moderna desde sua primeira aparição teórica no pensamento de Nicolau de Cusa no século XV. século, até sua integração explícita na filosofia de Leibniz no século XVII, até nos tempos contemporâneos com Nietzsche e essa sua maneira radical, complexa e provocativa de pensar o mundo com ela, incluindo como horizonte a cosmologia especulativa de Alfred North Whitehead. Trata-se então de “repatriar” o esquema perspectivista para entender melhor o seu funcionamento além de certos mitos herdados da iconologia e de uma certa tradição neokantiana (Cassirer, Panofsky) que foram estendidos ao século XX no pensamento fenomenológico (Husserl, Merleau-Ponty). Quando fala-se de “perspectiva” e “perspectiva”, é realmente apenas uma metáfora, uma “vertigem da analogia”, uma mera “projeção” subjetiva? Ou pode-se supor que esse uso metafísico ordinário do esquema de perspectiva se refira a uma época na história da filosofia em que alguns paradigmas arqueológicos fundamentais da metafísica moderna constituíram-se, mostrando assim o horizonte dos seus limites, a saber, a concepção de uma subjetividade transcendental e uma representação finita, em um mundo que tornou-se infinito? Então, por um lado, por que a “perspectiva”? Por que essa noção ambígua e muitas vezes infra-filosófica teve um papel tão importante na maneira como pensamos sobre nossa existência, nosso relacionamento com o mundo, com objetos e com os outros? Por outro lado, o quê pode o “perspectivismo”, se queremos dizer com isso uma maneira especulativa de usar o esquema da perspectiva para variar, pluralizar, multiplicar o mundo e os seres que o povoam? Apesar de sua trivialidade e equivocidade, quê possibilidades essa noção de “perspectiva” ainda carrega em nosso tempo de crise ecológica, de crise da Terra? Devemos desistir de dar-lhe consistência e abandoná-la para nossos usos comuns ou especializados (óptica, arte, geometria)? Que mundos ainda pode compor o “perspectivismo”? Que relação com a Terra ela permite reconstruir? O que a “perspectiva” ainda pode fazer hoje?