Por Lília Maria Silva Macêdo (UERJ)
Usted es poeta y sabe bien, tanto como Bonaparte, que de lo heroico a lo ridículo no hay más que um passo (…).
Simón Bolívar
Ao correr das páginas de O general em seu labirinto – romance de Gabriel García Márquez publicado em 1989 – nos situamos diante da elaboração literária de personagens e acontecimentos históricos que tiveram um papel importante na constituição da identidade latino-americana. Narram-se as desventura da última viagem de Simón Bolívar, o militar venezuelano conhecido por sua atuação de destaque nas lutas da independência de várias colônias espanholas[1] e pelo ideal de integração dessas regiões na formação de uma grande pátria, livre e próspera. Tratando de temas tão emblemáticos do ponto de vista histórico e sociológico é natural que a obra tenha despertado o interesse desses campos.
Contudo, a atenção que o presente ensaio lhe dedica vai além da mera curiosidade intelectual pela arte e parte do reconhecimento do potencial da literatura como um espaço de reflexões sociais e como um verdadeiro lócus para a produção de significados e formação de perspectivas, pelo qual as suas fronteiras se estreitam com as do saber sociológico. Na América Latina, devido às condições sociais específicas de desenvolvimento dos campos literário e científico, este diálogo mostrou-se especialmente profícuo. É, portanto, assumindo tal afinidade (que faz a literatura revelar-se como sociologia, assim como a sociologia revelar-se como literatura) que a referida obra é colocada em foco.
Deslindar a maneira como ela modela tal matéria histórica constitui a questão central. Porém, antes de tudo, é preciso ter em vista que se trata de um processo extremamente complexo e de caráter ambíguo. A independência se configurou como um movimento essencialmente conservador, mas ao mesmo tempo permeado por pequenas rupturas sociais que permitiram o surgimento de fissuras nas estruturas desiguais que eram perpetuadas. Este paradoxo fundamental envolve de igual maneira a figura histórica de Simón Bolívar, tornando-o alvo de reverências que em certos casos se convertem em um culto sistemático e arraigado, como procurou caracterizar Carrera Damas (1983).
Para dar cabo dessa problemática se articularam, em termos gerais, duas linhas de interpretação que resultaram em posições opostas. De um lado, está a tese de que a obra opera um processo de humanização e desmistificação da figura de Bolívar, o que consequentemente leva a uma percepção menos idealizada acerca da independência. De outro lado, argumenta-se que, de um modo não convencional, ela perpetua a imagem de Bolívar como herói e desta forma contribui para o seu culto e para a reativação do ideal da independência. Vejamos em pormenor cada uma dessas vertentes.
De acordo com a primeira perspectiva, o romance mobiliza uma série de mecanismos que promovem uma desconstrução da tradicional imagem heroica de Bolívar. Supõe-se que o herói seja alguém com características excepcionais e cujas ações possuem um sentido redentor. É aquele que enfrenta os desafios com valentia, mantendo a perseverança diante das dificuldades e sacrificando-se para salvar a todos. Com isso ele se torna alvo da veneração coletiva, sendo destacado dos demais e colocado em uma posição superior. No limite, essa elevação pode convertê-lo em um mito ou uma lenda no sentido de uma pessoa cujos feitos fantásticos e grandiosos alcançam enorme popularidade e passam a servir de inspiração para muitas gerações. Tudo isto pode fazer com que seja envolto em uma atmosfera sacramental e divinizada.
O recurso fundamental empregado pelo romance para destituir Bolívar de toda essa acepção, argumenta-se, é retirá-lo de tal plano especial e inseri-lo em um contexto ordinário. Não se trata, porém, de uma mera mudança de ambientação, uma vez que o personagem é remodelado interiormente na medida em que se move dentro desse novo âmbito. Ele desprende-se das sublimes amarras que faziam de si um ser notável e reequipara-se ao homem comum. Visto por uma ótica voltada para o aspecto mais prosaico da vida, a sua personalidade revela-se em seus traços mais vulgares e banais. Suas ações são triviais e se desenrolam no ritmo do cotidiano, enquadrando-se perfeitamente nos padrões da normalidade. A sua figura não possui mais conotações divinas, mas sim mundanas.
De um modo mais especifico, esse movimento de desconstrução se concretiza por meio de alguns elementos chaves. Em primeiro lugar está o recorte espaço-temporal dominante da narrativa que ao invés de centralizar-se nas épocas das grandes vitórias militares ou na escalada de poder de Bolívar, quando este se consolida como principal liderança da luta e posteriormente assume cargos políticos importantes nas novas nações, volta-se para os meses finais da sua vida em que o personagem já não mais gozava de posições privilegiadas. Mais do que isso, ele se encontrava em franca decadência no que diz respeito a vários aspectos da vida. O desenlace da narrativa, delineado no primeiro capítulo, é justamente a despedida desse prestigioso passado e o início de uma desventurada jornada na condição de desterrado. Desprovido de seus poderes e enfermo, ele retira-se para o exilio sem contar com a compaixão pública e insultado pelos seus adversários políticos. Diante dos desenganos do presente, as vozes de Bolívar e do narrador, entoadas de modo profético, se entrelaçam para denunciar a falácia que consideravam representar aqueles anos de glória. Portanto, mais do que ocupar um segundo plano na narrativa, esses anos são desmascarados e desacreditados.
Por essas razões, muitos autores, entre eles Stedile (2010), defendem que o processo de desmistificação do herói pelas vias literárias é central. Ele é ainda reforçado pelo destaque de alguns componentes na estruturação do universo ficcional. As questões que dizem respeito ao corpo e as sensações, por exemplo, ganham enorme espaço. O romance valoriza a dimensão “carnal” do personagem ao invés de circunscrevê-lo em uma esfera estritamente moral e intelectual que geralmente é encarada como sendo mais digna ou nobre. Além disso, ela está claramente em deterioração devido à doença e ao desgaste físico. Suas descrições, por vezes, se aproximam do grotesco. Da sua imagem elaborada ficcionalmente não se depreende a beleza, a força e a vitalidade que se esperaria de um herói, mas sim a feiura, a fraqueza e o esgotamento de um homem que definha.
Mesmo em termos espirituais, Bolívar se distancia da perfeição heroica, pois a retidão e a integridade do caráter dão lugar a uma personalidade ambígua e duvidosa. Já o empenho e a perseverança cedem espaço para o desânimo e a desilusão. Outro ponto bastante sintomático da degradação da condição heroica se refere à corrosão dos seus laços com a população. No decorrer da obra, vê-se o fascínio e a consideração que ela lhe dedicava transformar-se em aversão e desapreço. A familiaridade com que antes interagiam passa a ser uma relação distante e formal. Diferente dos grandes banquetes e festejos preparados em sua homenagem, improvisavam-se recepções mais simples e sem o mesmo entusiasmo de outrora. Em síntese, vê-se ruir seu antigo mundo de esplendor, opulência e fama. O seu incessante desmoronamento paira ameaçador sobre toda a narrativa.
Segundo Ramírez (1997), esse redirecionamento da representação de Bolívar já vinha desenvolvendo-se na literatura desde muito antes, por meio do trabalho de outros escritores[2], e alcançou o ápice na obra de Gabriel Garcia Márquez. O autor esclarece que Bolívar foi gradualmente transformado em um conceito, ou seja, o nome se afastou da sua referência original e começou a designar um conjunto de ideias e/ou valores, com o que a literatura muitas vezes cooperou, através de obras que estavam explicitamente voltadas para enaltecê-lo e perpetuar sua presença na memória coletiva. Tratava-se de um discurso público elogioso (por vezes adulador) que encobria relações de poder mais conflitivas e disseminava percepções idealizadas da história. Até que tais conflitos começaram a emergir a superfície do texto para esboçar apreciações críticas. Situando-se nesta linha, O general em seu labirinto levou a fundo a humanização do personagem, apresentando um Bolívar “de carne e osso”. Com isso o romance criou uma imagem tão destoante da consagrada que não é de se espantar que ele tenha provocado alvoroço entre os historiadores, especialmente os adeptos das interpretações historiográficas mais tradicionais.
Na contramão dessas proposições estão os que defendem que, apesar de a primeira vista parecer que a narrativa desfaz os contornos heroicos da figura histórica de Bolívar, ela na realidade colabora para reforçá-los. Parte-se do raciocínio de que um herói é louvado retratando-o não só em momentos de êxito e sucesso, mas também em meio às adversidades. Neste caso, elas servem como dádivas, já que funcionam como um instrumento para realçar as suas qualidades, pois quanto maiores forem os obstáculos que um herói é capaz de superar mais resplandecente será a sua glória.
De fato a trajetória de um herói não pode ser apresentada como um “mar de rosas”, constituída apenas por vitórias e aclamações que o fazem desfrutar de felicidade e tranquilidade continuamente. Necessariamente devem existir problemas e desafios, já que são através deles que o herói se consagra enquanto tal. Basta lembrarmos, por exemplo, dos tormentos vivenciados por Aquiles durante a guerra de Tróia ou dos inúmeros trabalhos que teve de enfrentar Odisseu na sua jornada de volta para Ítaca, para citar os dois grandes heróis da epopeia grega, como registrado nos poemas de Homero. Note-se que este lado menos afortunado está também presente na elaboração da face heroica de Bolívar, pois o mesmo ficou conhecido não só como “O Libertador”, mas também como “o homem das dificuldades”, uma expressão utilizada pelo próprio Bolívar e posteriormente apropriada pelos estudiosos para destacar o quão árdua era a tarefa de conduzir a independência.
Se ao longo do romance Bolívar não consegue vencer completamente os impasses que se interpõem em seu caminho e suplantar de vez o quadro de fracasso que o rodeia, restaurando a sua reputação, há que se notar que o texto está repleto de passagens em que essas tendências são contrariadas. Em alguns momentos, a atmosfera de derrota é levemente rompida ou desestabilizada. Por mais que sejam sutis e ligeiras, essas “quebras” do sentido geral da narrativa possuem um impacto significativo. Elas destacam-se, justamente, por brotarem em um contexto que não lhes era propício. Ou seja, ganham maior notoriedade por divergirem fortemente do seu entorno. Vejamos como isso ocorre.
Dividindo a narrativa em alguns eixos temáticos é possível identificar elementos que apontam nessa direção em cada um deles. No que diz respeito ao estado de saúde do protagonista, por mais declinante que seja, em algumas ocasiões ele consegue reestabelecer as forças ou pelo menos recobrar um poucos das energias. De modo surpreendente, tem disposição para executar tarefas que demandavam mais do que o seu corpo aparentemente poderia suportar. Esse vigor manifesta-se também em breves relances, por meio de um olhar, um gesto ou uma entonação da voz. Com isso o personagem impõe-se, momentaneamente, diante das circunstâncias e demonstra uma fibra e um dinamismo que revertem o seu quadro de abatimento e prostração. Tudo isso conflui para causar a impressão de que o estado de espírito do protagonista de tão forte e obstinado é capaz de se sobrepor as limitações físicas, ainda que o mesmo só aconteça fugazmente.
Já na esfera das questões políticas, o desapontamento e as frustrações de Bolívar pela perda do poder e o desmantelamento dos seus projetos são contrabalanceados pela crença obstinada no ideal da integração, a única convicção que o personagem não abre mão e que defende tenazmente até quase seus últimos dias. Sugere-se com isso que tal sonho ainda pairava no horizonte de suas expectativas, apesar de manter um tom queixoso e cético quanto às possibilidades da sua realização. Por outro lado, mesmo com a derrocada política o protagonista carregava os vestígios de uma antiga autoridade que, por vezes, afetava os que estavam a sua volta. Desse modo, embora que não causasse uma grande comoção pública, a sua presença podia sensibilizar algumas pessoas. Era como se o seu passado de honras e distinções o perseguisse e ele não pudesse se desvencilhar dela ainda que não passasse de uma sombra. Além disso, em determinado ponto do enredo, quando se criaram condições políticas relativamente favoráveis, Bolívar se mostrou propenso a retomar a luta e engajar-se nela com entusiasmo, depois de certa resistência. Portanto, era capaz de sonhar e erguer-se para agir com determinação.
Em síntese, conforme esta segunda linha de interpretação, em que pese que o quadro geral da obra retrate a decadência de Bolívar, as constantes remissões ao passado de êxito, o despertar do seu espírito vigoroso, o renascimento de sua visão idealista quanto ao futuro da América contido na proposta da integração, a postura combativa e decidida para retomar as rédeas de sua vida e da situação política, entre outros fatores – apesar de constituírem momentos ocasionais e pontos específicos da narrativa – possuem força para se sobreporem ao enquadramento mais amplo da mesma. É como se este lado fortalecido compensasse a imagem débil do protagonista, “cujo passado glorioso é mais do que suficiente para cobrir os déficits do presente”[3], como aponta Garin (2012, p. 34). Em síntese, por apresentá-lo como alguém que eventualmente é capaz de “renascer das cinzas”, o romance endossa, em alguma medida, a visão de Bolívar como um homem admirável e com isso conserva a sua aura heroica nas entrelinhas, ou seja, de uma forma menos explícita, mas que não deixa de ter um efeito contundente.
Sob essas condições, argumenta-se que o intento de desconstrução termina se configurando como apologia ou ainda que há um culto disfarçado de desmistificação. Além disso, a humanização não desemboca na diminuição dos méritos do personagem histórico, se a condição humana não for considerada menos virtuosa ou for de alguma maneira valorizada. Mais ainda: ela pode contribuir para reaproximá-lo do público e reinseri-lo no imaginário coletivo de um modo que desperte ainda mais empatia e afeição, já que as possibilidades de identificação com o protagonista são maiores conforme ele se revele uma pessoa comum que padece dos mesmos sentimentos, dúvidas e imperfeições e, por isso, esteja mais suscetível a falhas, hesitações e temores.
Para Fredrigo (2009) a afinidade do romance com o epistolário bolivariano é que produz o seu alinhamento com a celebração da figura histórica de Bolívar. A autora, que se dedicou a análise desse conjunto de cartas, buscando deslindar os seus principais temas e estratégias narrativas, conclui que elas prestaram-se a uma função que foi muito além do mero estabelecimento de canais de comunicação para a troca de informações estratégicas em um contexto de guerras e articulações políticas. Por meio delas Bolívar conferia sentido as suas ações e a sua própria trajetória, elaborando uma autoimagem para interferir na percepção de seus contemporâneos e das gerações futuras. Ou seja, elas faziam parte de um projeto de memória. Na medida em que foram tomadas pela historiografia como a principal fonte documental, a versão bolivariana dos fatos muitas vezes foi encarada como a verdade, sem a necessária problematização desse ponto de vista.
De modo semelhante, por basear-se tão extensamente na correspondência de Bolívar, o romance acabaria absorvendo alguns de seus preceitos, como o discurso da renúncia. Segundo a autora, Bolívar evocava constantemente o tema, apresentando-o como uma possibilidade iminente. Isso funcionava como um recurso para medir o seu apoio e a sua legitimidade e ao mesmo tempo era uma forma de fomentar a ideia de que a sua atuação era imprescindível em diversos sentidos e principalmente para a conquista e manutenção da independência. Tratava-se da elaboração de uma “memória da indispensabilidade”, motivada paradoxalmente pela consciência da dispensabilidade. Nas cartas, ele também deixava bastante claro a sua insatisfação com os rumos políticos. Com isso, o tom de frustração é outro elemento importante que se estende para o romance. Bolívar teria apostado na independência acreditando que ela seria a transformação necessária para a conquista da estabilidade social, mas suas expectativas foram quebradas diante dos inúmeros conflitos internos que eclodiram após a emancipação.
Como defende Fredrigo (2009) a incorporação de pontos fundamentais do epistolário faz com que o romance assuma o projeto de memória formulado por Bolívar, o que é reforçado pela cumplicidade estabelecida entre o narrador e o personagem. O primeiro, tendo amplo domínio do tempo (uma visão total da trajetória de Bolívar e do momento histórico por ele vivido) está apto a adiantar acontecimentos futuros assim como remeter ao passado para embasar e justificar as atitudes do segundo. Assim, o olhar do personagem é muitas vezes corroborado pelo narrador que contribui para forjar a imagem de um homem caluniado e traído por antigos aliados que se converteram em inimigos. No entanto, em algumas oportunidades o mesmo narrador desmascara as verdadeiras intenções de Bolívar, demonstrando um sutil descolamento entre as duas perspectivas. Isso ocorre, por exemplo, quando revela que Bolívar utilizava a questão da renúncia e dos rumores sobre sua má saúde para fazer pressões ou quando se dizia ressentido e desiludido da luta, mas na realidade unia forças para a retomada política.
Em síntese, de modo paradoxal, é possível encontrar na narrativa elementos para sustentar a tese da desconstrução da imagem heroica de Bolívar assim como para sustentar a tese do culto a essa mesma imagem. Até certo grau ambas possuem fundamento e após uma primeira leitura o personagem poderá aparecer para o leitor de uma forma ou de outra. Nesse sentido, deve-se observar que dependendo de sua “bagagem” de conhecimentos ou mesmo de suas inclinações políticas e ideológicas, ele poderá ser mais ou menos sensível a cada ponto específico do enredo. Há ainda inúmeros fatores de ordem subjetiva que podem direcionar o seu foco de modo seletivo. Isso faz com que cada experiência de leitura seja única e que, em alguma medida, a interpretação da obra seja fruto dos vieses que o olhar do leitor lhe imprime, gerando assim percepções consideravelmente diferentes para o mesmo texto. Portanto, pode-se levantar a hipótese de que, se a obra oferece dois “caminhos”, a decisão sobre qual deles seguir é tomada pelo leitor conforme ele a vivencia e de acordo com o peso que confere a cada elemento que a compõe.
No entanto, pode-se argumentar que este peso não é conferido exclusivamente pelas apreciações exteriores ao texto, pois no próprio texto se poderia identificar a predominância de uma dessas caracterizações do personagem que anularia os efeitos da caracterização contrária, lançando uma luz capaz de ofuscá-la. Mais do que isso, salienta-se a possibilidade de que o retrato oposto exista apenas para reforçar o retrato dominante, como a exceção que confirma a regra. Assim, pela perspectiva da tese da desmistificação, se diria, por exemplo, que a menção frequente ao passado de glórias serve para ressaltar o fracasso da condição final de Bolívar e acentuar o tamanho da sua decadência.
Porém, não nos enganemos: os mesmos fatos podem ser entendidos no sentido inverso. Pela perspectiva da tese do culto, se afirmaria que, na realidade, são as deficiências do presente que proporcionam os meios para que se sobressaia o esplendor do passado. Portanto, ou se diz que o “Bolívar heroico” aparece somente para ratificar o declínio do “Bolívar humano”, ou que o “Bolívar humano” faz surgir das entrelinhas um “Bolívar ainda mais heroico”. Isso explicita a ambivalência da construção literária, já que o efeito produzido pela narrativa vem acompanhado simultaneamente pelo seu contrário, o que torna muito delicado determinar precisamente qual das duas imagens prevalece, pois os argumentos utilizados por um dos lados podem ser convincentemente adaptados ao outro.
Conferir primazia a um deles, portanto, não seria fiel à estrutura do romance, pois o universo ficcional, contemplado em sua totalidade, baseia-se justamente no entrelaçamento desses dois polos. Mais do que uma desmistificação ou um culto, a narrativa promove um trânsito constante entre “o heroico” e “o humano”, sendo tal movimento oscilatório o fenômeno em questão. O drama central do personagem é a imprecisão do seu pertencimento social, o fato de ele estar situado em uma espécie de limbo que é este espaço intermediário. Tudo isso produz um forte sentimento de incerteza, diante do qual indaga-se: afinal de contas, quem é este Bolívar? A resposta para essa questão permanece uma incógnita suspensa no ar até as últimas páginas do livro.
Em síntese, têm-se um retrato dúbio que parece transportar para a literatura a mesma ambiguidade do imaginário social que envolve essa figura histórica, tornando Bolívar uma referência para as mais díspares orientações políticas e dividindo os estudos no âmbito da sociologia e da histórica. É preciso esclarecer, então, como se dá a dinâmica entre essas duas “faces” do protagonista ao longo da obra. Primeiramente, observa-se que, em várias das cenas narradas, intercalam-se significados que compõem antíteses. Vitória e derrota, força e fraqueza, glória e desonra, êxito e fracasso, conquista e perda, sonho e desilusão, esperança e ceticismo, luta e sujeição, ascensão e decadência, auge e ruína, ânimo e abatimento, vigor e esgotamento, movimento e prostração, vivacidade e morbidez, são apenas alguns dos pares que podem ser elencados.
Entretanto, mais do que se alternarem, esses campos semânticos se mesclam. Um aspecto sensibiliza ao outro, criando uma tensão constante. Trata-se do estabelecimento de uma dialética, uma unidade entre contrários, que revela contornos específicos em cada um dos eixos temáticos da obra. No eixo que se refere às condições de vida do protagonista essa dialética pode ser definida como uma dialética entre o corpo (enfraquecido e adoentado) e o espírito (fortalecido e sadio); já no eixo voltado para as questões políticas é a vez da dialética entre a glória (que sintetiza o idealismo, o êxito e o poder) e a ruína (que sintetiza o ceticismo, a derrota e a impotência); por fim, no eixo que diz respeito ao convívio social identifica-se uma dialética entre a aclamação (a relação próxima, afetiva e informal com as populações locais) e o repúdio (a relação distante e formal).
Por aproximar tão estreitamente elementos divergentes, criam-se cenas inusitadas. É assim, por exemplo, quando Bolívar, no auge do seu abatimento e as vezes em meio às crises provocadas pela doença, restaura repentinamente as forças e tem momentos de grande lucidez (até mesmo premonições), ou quando manifesta uma autoridade da qual já estava despossuído, surpreendendo a todos. Essas e muitas outras situações – que representam a passagem de um estado para o outro – possuem sempre um ar inesperado, disparatado, insólito e extraordinário, beirando o fantástico. O caráter inusitado dessas ocorrência é apontado sutilmente pela própria narrativa, como no trecho em que afirma-se que Bolívar portava “o halo mágico do poder” (Márquez, 1989, p.39) mesmo estando despojado do mando que antes exercia.
Além disso, há pequenos casos intrigantes espalhados pela narrativa em sintonia com estilo realista mágico do autor. Neste sentido figuram os seguintes episódios: o índio milagreiro que restabelece momentaneamente a saúde de Bolívar; as pegadas de um animal exótico encontradas nas margens do Rio Magdalena que seriam de homens com cristas e patas de galo; os conselhos da cartomante para Sucre que se seguidos teriam evitado que ele caísse na embocada preparada por seus inimigos; os pressentimentos de Bolívar quanto a morte de Sucre e o seu reconhecimento do quarto que lhe foi cedido no Colégio de São Pedro Apóstolo, sendo que nunca tinha estado nesse lugar antes. O quarto é ainda misteriosamente idêntico ao que é descrito na última cena do romance.
Nesses trechos podem-se enxergar os traços do realismo mágico de tipo antropológico, conforme é conceituado por William Spindler e reportado por Lopes. Esse tipo é caracterizado por uma narrativa que contém “vozes” que ora relatam os acontecimentos do ponto de vista racional e ora do ponto de vista daqueles que acreditam na existência de elementos mágicos, remetendo com isso aos mitos e crenças que integram a cultura de determinado povo ou grupo social. Nas obras de García Márquez em geral, trata-se da cultura popular do caribe colombiano, de acordo com Júnior (2004).
No romance analisado observa-se que, enquanto os demais personagens acreditam na qualidade sobrenatural dos acontecimentos relatados, o protagonista se mantem totalmente cético. Todavia, mesmo ele vacila: em certa altura da narrativa, as certezas de Bolívar quanto a validade e coerência deste mundo parecem ser profundamente abaladas diante das angústias e frustrações políticas que o rodeavam. Assim, de modo irônico levanta-se a possibilidade de que ele estivesse disposto a lançar mão da salvação por outra via, apostando nas propriedades da erva cidreira roxa para “conjurar a má sorte”:
Vinte e quatro anos depois, absorto na magia do rio, moribundo e derrotado, talvez se perguntasse se não teria a coragem de mandar al carajo as folhas de orégão e de salva brava, e as laranjas amargas dos banhos de distração de José Palacios, para seguir o conselho de Carreño e submergir até o fundo, com seu exército de mendigos, suas glórias imprestáveis, seus erros famosos, a pátria inteira, num oceano redentor de erva-cidreira roxa (MÁRQUEZ, 1989, p. 136, grifo nosso).
Entretanto, mais do que compor o pano de fundo em que transcorre o enredo ou concentrar-se em alguns episódios notadamente excepcionais, se poderia aventar a hipótese de que esses elementos mágicos seriam também decisivos para a sustentação da referida dialética em que se baseia o universo ficcional. É uma aura mágica que garante a convivência tão fina entre opostos que, assim, se entrelaçam. A ideia de que existia uma força inexplicável por detrás dessa configuração é sugerida, por exemplo, na passagem em que Bolívar crê que o presságio que havia tido um ano antes se realizaria. Por mais que o mesmo não aconteça (pelo menos em seu sentido estrito) é interessante notar como o significado global da vida do personagem é remetido a algo incompreensível:
[…] um pressentimento o fez estremecer. A ele, que nunca admitira a realidade, dos pressentimentos. O sinal era nítido: se conseguisse ficar vivo até o aniversário seguinte, não haveria morte capaz de matá-lo. O mistério desse oráculo secreto era força que o sustentara até aquele dia, contra toda a razão.
– Quarenta e sete anos, carajos! – murmurou. – E eu estou vivo!
Endireitou-se na rede, com as forças estabelecidas e o coração alvoroçado pela certeza maravilhosa de estar a salvo de todo o mal. (MÁRQUEZ, 1989, p. 198, grifo nosso).
O zigue-zague entre uma zona de heroísmo, glória e triunfo e uma zona de humanidade, fracasso e cotidiano, constitui o “ritmo mágico” da narrativa. O seu andamento se dá a partir dessa alternância incessante. Com isso segue-se um caminho tortuoso com inúmeros reveses ao invés uma linha reta com início, meio e fim. Tal imagem aproxima-se de um labirinto, figura que aparece como metáfora, tanto no título como na cena final. De fato, apesar de constar apenas nesses dois lugares, ela tem o poder de sintetizar vários aspectos da obra, configurando-se como um elemento chave.
A experiência de quem percorre um labirinto é marcada pela incerteza. Tem-se um objetivo muito claro em vista: encontrar a saída. Porém, para alcançá-lo é preciso atravessar um caminho desconhecido que pode reservar perigos não calculados. Não se dispõe de um roteiro – ou, ao menos, ele é traçado de improviso – pois conforme se avança é que se vislumbram as possibilidades e que se decide qual direção tomar. O itinerário responde, portanto, às contingências do momento. O viajante pode acabar passando pelo mesmo lugar várias vezes ou ficar encurralado, tendo que recuar para assumir uma nova rota. Em algumas ocasiões convém avançar, tentar, arriscar, ousar, apostar e insistir. Em outras, retroceder, hesitar, assegurar, repensar e recomeçar.
Essa sequência embaraçada e caótica não remete somente a maneira como a história de Bolívar é contada, mas também ao próprio conteúdo dessa história, já que a biografia do personagem (tanto dentro, quanto fora do romance) é igualmente assinalada por uma complicada trama que em grande parte se origina do envolvimento com a luta pela independência. Por diversas vezes foi necessário reorganizar as forças, retraçar estratégias, refazer ou desfazer alianças políticas e empreender novamente campanhas militares. Até os seus últimos dias, Bolívar viveu as atribulações de uma vida dedicada quase que inteiramente a uma luta com dimensões continentais e com uma profunda complexidade histórica e social. Cabe mencionar que a impressão de desordem e confusão que essa trajetória inspira é sugerida pela epigrafe do romance que toma as seguintes palavras de Bolívar em uma carta para o general Santander (ironicamente, o aliado que se converte no seu principal opositor): “Parece que o demônio dirige as coisas de minha vida” (MÁRQUEZ, 1989, p. 7). Em outras palavras: somente uma força maligna poderia explicar os rumos desconcertantes dessa jornada.
Esse raciocínio também poderia ser estendido ao processo de escrita do romance, já que este envolveu uma intrincada pesquisa de fontes históricas e documentais. Segundo o relato do autor, ele se viu diante de um emaranhado de referências para a construção do personagem e de uma vasta e controversa bibliografia sobre o assunto. Para Harwich (2003), de fato, a configuração labiríntica pode ser creditada a própria historiografia sobre Bolívar e a independência elaborada ao cabo de séculos por estudiosos e pesquisadores. Os trabalhos resultaram em pontos de vista tão variados que é como se o “Bolívar histórico” estivesse encerrado em um “labirinto historiográfico”, que reflete os dilemas dos povos latino-americanos na busca pelo conhecimento do seu passado.
Ampliando ainda mais esse raciocínio, a metáfora do labirinto pode ser aplicada a dinâmica histórica especifica da América Latina (tanto no período das lutas pela independência quanto após este). Assim, o labirinto não simboliza apenas o encadeamento da narrativa, a biografia do protagonista, o processo de elaboração do romance e o conjunto de trabalhos e referências sobre as questões que ele abordada. Ele traduz também o senso de historicidade que está incrustrado na obra e que abre novas possibilidades para pensar a história do subcontinente. Isso é sugerido por Figueiredo (1994) que se dedicou a investigar as imagens da história produzidas pela ficção latino-americana contemporânea.
De acordo com a autora, a marginalização da percepção do tempo dos povos originários da América (baseada no mito) e a imposição da percepção do tempo dos povos europeus (baseada na evolução), que teve lugar com a conquista, fez com que os primeiros escritos literários tratassem tudo aquilo que fugisse da lógica temporal dos colonizadores como algo exótico. No século XIX a dificuldade de enquadrar a história da região nesse modelo estrangeiro começou a se esboçar e isso fez com que ela fosse colocada em segundo plano, enquanto a geografia ocupou o primeiro. Já em meados do século XX, a posição periférica do subcontinente foi ressignificada na medida em que passou a ser apontada como uma alternativa ao padrão cultural hegemônico representado pela civilização europeia. Nesse sentido a América representava o ideal de que outro mundo era possível. Essa tendência, exprimiu-se com força na literatura do boom que rompeu com a concepção de tempo moderna/ocidental e imprimiu em suas obras uma concepção mais próxima da temporalidade mítica, que muitas vezes assume uma forma circular.
Entretanto, entre as décadas de 1980 e 1990, as frustrações sociais e políticas que impregnaram a atmosfera latino-americana fizeram nascer outra perspectiva da história, já que não havia mais essa aposta na alteridade que a região supostamente incorporaria. Ao invés disso enxergava-se uma América híbrida que se debatia entre distintos modelos civilizacionais, sem saber ao certo para onde seguir, deslocando-se por caminhos que não são perfeitamente retilíneos (padrão moderno) nem perfeitamente circulares (padrão mítico). O labirinto converteu-se, desse modo, em uma perfeita expressão dos dilemas latino-americanos e por isso assumiu precedência nas páginas do romance de Gabo que transforma a América em que Bolívar empreendeu triunfante as guerras de independência na “América-Labirinto” (Ibidem, p.115) que encurrala o seu próprio libertador.
Bolívar encarnou essas controvérsias de várias maneiras e talvez por isso tenha se tornado uma figura tão paradigmática na história da região. Assim, em última instância, o labirinto redunda no seu próprio ser. Nesse sentido note-se que o personagem vivencia no romance um choque constante entre expectativas e realidade. O intento de construção de uma grande pátria (livre, unida e forte), por exemplo, confrontou-se com inúmeros obstáculos, dentre os quais estavam os conflitos entre as oligarquias locais que desembocaram na separação dos Estados e fadaram ao fracasso o ousado sonho bolivariano.
Poderia se dizer, portanto, que a característica central do protagonista é o fato de ele estar dividido entre duas dimensões: uma relativa aos ideais (que contempla os planos, as metas, os projetos e as utopias) e outra relativa a vida prática (que contém os condicionamentos e as restrições colocadas pelas estruturas sociais concretas). Não é à toa que a sua vida é sintetizada como uma “corrida louca” entre “seus males” e “seus sonhos” (Márquez, 1989, p. 266), sendo essa condição o que gera o tom de desengano e frustração manifesto pelo personagem no decorrer de toda a narrativa.
Interessante notar que este traço está presente com destaque na avalição da figura histórica de Bolívar feita por Romero (2001). De acordo com o autor, o seu ânimo criador e as suas aspirações visionárias conviviam com uma aguda consciência das condições adversas que elas teriam que enfrentar para se realizarem. Em vários dos seus escritos, Bolívar antevê o fracasso político e demostra grande capacidade de conceber o desastre. A questão era que Bolívar visava instaurar uma nova ordem social cuja direção se mantivesse nos quadros da classe dominante, mas percebeu no desenrolar da luta que ela escapava do seu controle. Assim, inicialmente as massas populares não aderiram ou até se opuseram ao projeto independentista encabeçado pela elite criolla, mas a partir de 1814 mudaram tal postura, o que foi decisivo para que a vitória fosse alcançada.
Entretanto, se esse componente da população foi essencial para a vitória militar, a mesma coesão não se manteve em termos políticos, como Bolívar almejava. Desse modo, o centro de suas angústias após a independência era o medo de que se deflagrasse um conflito entre os vários grupos que compunham aquela sociedade. Notadamente, entre uma maioria não branca excluída e uma minoria branca privilegiada. Apesar de esvaziar ou minimizar essas tensões sociais em alguns escritos de caráter mais público – para não pôr em dúvida a viabilidade da luta pela independência – estava ciente de que, em uma sociedade extremamente desigual, elas seriam explosivas.
Nos últimos anos de sua vida esses receios se intensificaram e, por isso, todas as suas propostas quanto ao desenho das instituições políticas consistiram sempre em tentativas de conter esse processo. Neste sentido se situam as ideias de um senado hereditário, de um poder moral e de um cargo vitalício de presidente que daria ainda o direito de indicar um sucessor, apresentadas em diferentes ocasiões e para diferentes países, sempre sobre a alegação de que ainda não se tinham desenvolvido as aptidões politicas condizentes com o sistema republicano em sua forma perfeita. Segundo Romero (2001), Bolívar chegou ainda a sugerir que se estabelecesse uma tutela estrangeira sobre as novas nações.
Assim, aquele que se dedicou a impulsionar a ruptura revolucionária no campo de batalha, esforçava-se para contê-la na esfera política institucional. Seu descontentamento com os rumos do processo se tornavam ainda mais agudos e dramáticos devido ao seu enorme sentimento de responsabilidade e o seu ímpeto de glória pessoal. Na perspectiva desse autor, Bolívar personificou um herói de destino trágico, no sentido de que teria se voltado para tarefas grandiosas, mas cujos resultados foram frustrados. Porém diferente do herói trágico antigo, ele não é guiado por deuses ou tem o seu caminho traçado de por estes. Trata-se de um herói moderno que reflete, medita e pondera o tempo todo sobre a sua trajetória e sobre as suas escolhas, o que lhe causa grande sofrimento e desolação, conforme toma conhecimento das impossibilidades que se impõem a sua ação.
Esta construção da imagem de Bolívar tem outra consequência importante. Vejamos. Não há dúvidas de que a narrativa de O general em seu labirinto toca em vários pontos delicados da independência, que não costumam ser contemplados ou problematizados pela historiografia mais tradicional de cunho apoteótico e apologético. Ela aborda os aspectos mais devastadores da guerra, os atos destrutivos de suas lideranças (muitas vezes para manter a luta sobre a direção da classe dominante) e a situação desordenada e calamitosa em que ficou a população mais pobre, o exército libertador e as cidades após a independência. Para todos os lados encontram-se rastros de destruição que se somam ao panorama político caótico e desestabilizado, levando, no limite, ao questionamento da validade da guerra pela emancipação.
Porém, se o processo da emancipação é alvo de críticas, isso não significa que o seu maior herói recebe a mesma condenação. Isto porque ao capturar e desenvolver a imagem de um homem cujos sonhos são contrariados pelas circunstâncias, Bolívar aparece como alguém que não estava de acordo com o desenrolar da luta. Para ele a independência não estava completa. Faltava ainda concretizar uma segunda etapa fundamental, sem a qual ela degeneraria: a integração das ex-colônias na formação da grande pátria.
Assim, um chamado pela união percorre toda a narrativa, como o eco distante da voz insistente de um herói derrotado, mas ainda defensor de sua causa. Ela perdura como uma dívida histórica a ser saldada no presente. Para Garin (2012), o romance possui o poder de sensibilizar o leitor nessa direção e até mesmo instigar a adesão desse princípio. Já para Ramírez (1997) esse ideal, contrariando todo o pessimismo presente na obra, representa uma derradeira aposta para o futuro da América Latina.
Em síntese, a figura de Bolívar é sutilmente descolada do processo social mais amplo de que ele tomou parte, de forma que a problematização do processo não leva necessariamente à deslegitimação da sua figura histórica. Não se trata, porém, de simplesmente conservar a sua face heroica, pois, como visto, o romance promove um movimento muito mais complexo que se situa entre a desmistificação e o culto da mesma. Trata-se antes de recuperá-la por outras vias para torná-la portadora de um renovado ideal político, com o qual se espera encontrar a saída deste imenso labirinto latino-americano.
Por tudo isso, O general em seu labirinto é uma obra paradigmática para a reflexão acerca do fenômeno da reedição de antigos ícones, ideários e lutas nos quadros das sociedades contemporâneas. Um fenômeno – de enorme interesse para a sociologia latino-americana atual – que faz levantarem-se de suas tumbas os homens do passado, projetando-os para o presente e para o futuro.
Referências Bibliográficas:
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FREDRIGO, Fabiana de Souza. O discurso da renúncia e a memória da indispensabilidade no epistolário bolivariano: entre os limites da liberdade e o desencanto com a independência nas Américas. Revista Ágora (Vitória), v. 09, p. 1-23, 2009.
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STEDILE, Terezinha. Simón Bolívar – Do herói libertador ao homem desmistificado em El general en su laberinto (1989) de Gabriel García Márquez. Revista de Literatura, História e Memória – UNIOESTE. Volume 6, número 8, ano 2010. Páginas 45-59.
Notas:
[1] Hoje correspondentes aos seguintes países: Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Bolívia e Panamá.
[2] Nesse caso, cita-se o poema “A Bolívar” de José María Heredia, o poema “Canto General” de Pablo Neruda e o conto “Guayaquil” de Jorge Luis Borges.
[3] No original: “cuyo pasado glorioso alcanza y sobra para cubrir los déficit del presente”.
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