Diogo Corrêa – UVV | professor de sociologia

Sociologias do tempo presente

A presente linha de pesquisa, cuja pergunta basilar é “em que mundo vivemos?”, procura conceitos e narrativas de amplo alcance de autores contemporâneos na filosofia, na antropologia e na filosofia capazes de dar respostas aos desafios propostos pelas teorias sociais clássica e contemporânea aos fenômenos que despontam como definidores do nosso presente: o neoliberalismo e suas formas correspondentes de subjetivação, a individualização, o antropoceno, a questão da regressão democrática, a crise da democracia liberal, a emergência e o fortalecimento de populismos de extrema direita, a virtualização da experiência, as fake news,  a proliferação de teorias conspiracionistas, a pós-verdade etc. Assim, a intenção do presente projeto é mostrar como o repertórios conceituais interdisciplinares (sociologia, antropologia e filosofia) podem servir tanto para repensar criticamente os pressupostos e instrumentos analíticos da teoria social quanto para oferecer horizontes interpretativos que auxiliem no trato com as novidades e diferenças trazidas à luz pelas constantes transformações do mundo contemporâneo. 

Sociologia dos problemas íntimos ou interiores

A subjetividade é um dos temas mais espinhosos da filosofia, da psicologia, da sociologia e da antropologia. Não há ciência humana que não tenha se deparado com esta questão. Duas posturas tem preponderado na discussão em torno dela: de um lado, há aqueles, sobretudo de orientação pós-moderna, que tem buscado desconstrui-la, argumentando que qualquer sentimento de identidade ou de interioridade não passa de uma construção de jogos de linguagem, de signos, de relações entre significantes, etc. De outro lado, há o que continuam a invocar um princípio metafísico no qual a subjetividade ou o “eu” encontram fundamento em uma res cogitans ou um sujeito transcendental, etc. De modo distinto, esta linha de pesquisa pretende, de um lado, levar a sério a “interioridade” como instância pragmática mobilizada pelos atores em determinadas situações e, de outro, criar uma metodologia que seja capaz de acompanhar os problemas de pessoas, formalizando-os, de modo a obter os elementos fundamentais e pertinentes para elas e para o meio no qual elas estão inseridas. Em debate direto com o pragmatismo de John Dewey e a sociologia dos problemas públicos, ela apresenta um enquadramento teórico metodológico que seja capaz de captar não tanto o público, mas o self a partir de seus problemas. Com isso, o objetivo dessa linha de pesquisa é ir além das explicações que reduzem o self e sua agência ao seu passado incorporado, como na hipótese disposicionalista – seja em sua versão do habitus à la Bourdieu ou seja em sua versão mais pormenorizada e minimalista do patrimônio disposicional em Lahire -, ou o reduzem ao seu futuro imaginado ou planejado, como na hipótese da escolha racional (Boudon) ou das conversas interiores (Archer).