
A experiência de jogar – fenomenologia, pragmatismo e esporte
Esta linha de pesquisa visa explorar os aspectos microssociológicos que constituem a experiência de jogar jogos esportivos coletivos a partir de referenciais teóricos da Fenomenologia e do Pragmatismo. A questão fundamental que norteia essa linha de pesquisa é a seguinte: como esses jogos possibilitam uma experiência de grande excitação, com um alto nível de adesão prática e de engajamento emocional entre os participantes como parte de forças coletivas contrapostas? Busca-se responder a essa questão considerando a experiência como ela é vivida pelos jogadores, isto é, como uma relação competitiva constituída e organizada pelas regras do jogo, convertidas em um ambiente de desafio, colocando em novos termos a relação do ser com o mundo. A constituição de um espaço intersubjetivo, intercorporal, interobjetiva, uma organização da percepção, diante de uma atitude competitiva gerada pelo desafio que se coloca obtendo do ser uma abertura prática à coordenação da própria ação à do outro (atacante ou defensor) – um mundo. Entra em curso a constituição de um espaço e de um tempo vivido em uma corrente de experiência comum, em quase simultaneidade, com uma pluridimensionalidade de perspectivas.
Dádiva e esporte – a reciprocidade, a agremiação e o jogo
Nesta linha de pesquisa, ainda em etapa inicial de desenvolvimento, consideramos importante avançar na direção de compreender a atuação da força moral e afetiva entre jogadores, dirigentes, torcedores e agremiações esportivas, no mundo dos esportes. Consideramos que a ambição agonística de competir pelo reconhecimento de que somos ou estamos entre os melhores, que é inerente à prática esportiva institucionalizada, se traduz em pressões internas e externas por engajamento pessoal tanto no ambiente de pequenos clubes quanto no de grandes clubes, envolvendo mesmo uma massa de aficionados. No universo do futebol, esse fenômeno é mais visível, tal o seu alcance. Os sentimentos coletivos gerados por jogos e campeonatos mobilizam torcida, jogadores e dirigentes, acumulando-se e amplificando-se na imprensa e redes sociais (quando do interesse de setores mais amplos da sociedade), impelindo a julgamentos, cobranças, críticas, elogios… cuja espontaneidade e repetição expressam o forte elemento de adesão emocional aos mundos esportivos. Compreender a que lógica correspondem contribui por sua vez para compreender um dos planos mais importantes da vida moderna, o mundo esportivo, seja ele o do futebol profissional, apreciado por uma massa de interessados, seja o de pequenos clubes ou times de bairro. Para entender como se organiza esse complexo de relações impregnado de afetos, propõe-se conceber essa ordem de fenômenos sociais como de natureza eminentemente moral e simbólica a partir do paradigma maussiano da dádiva e das relações de reciprocidade que elas implicam.