Érico Andrade – UFPE | Professor de filosofia

A minha pesquisa versa sobre uma forma específica do sofrimento. Inicialmente, gostaria de esclarecer que embora eu não tencione, a exemplo de Butler (2015, p.72), subestimar o trabalho de reconstrução identitária, especialmente para vidas cujo sofrimento consiste justamente numa dificuldade de traçar uma compreensão desfragmentada de si mesma, quero entender o quanto certos sofrimentos se estruturam sobre um marco identitário. Isto é, entender porque a construção da identidade se arraiga tão fortemente em nossas práticas no sentido de que é preferível, muitas vezes, sofrer e manter a ilusão de que somos os mesmos a se libertar de uma compreensão unilateral e fantasmática de si na forma de uma identidade pessoal. Com efeito, isso não significa dizer, insisto, que não podemos sofrer também pela falta de identidade. Mais do que ambivalente, sabemos que o sofrimento é extremamente complexo: polivalente, poderíamos dizer. Por isso, vou investigar uma forma específica de sofrimento, de modo nenhum a única ou a mais importante, que se liga ao anelo narcísico de se manter o mesmo diante da acidentalidade da existência e diante da multiplicidade de si mesmos que somos muitas vezes concomitantemente.