Maria Luiza Rebêlo de Azevedo – UFPE | doutoranda em sociologia

Psiquiatria e sociedade: uma análise sociológica sobre a medicalização do mal

O conceito de medicalização vem sendo cada vez mais trabalhado no âmbito das ciências sociais, ainda que os processos efetivos de medicalização da vida sejam majoritariamente conduzidos pelo meio médico. Em tais processos, como a própria noção indica, problemas humanos que outrora não eram vistos como pertencentes ao campo médico passam a ser percebidos e tratados pelo mesmo. A extensão da medicalização para o domínio da vida moral, em particular, gera todo um conjunto de repercussões sociais podem ser constatadas e analisadas sociologicamente. Uma possível maneira de se aproximar de tais repercussões é mediante o exame dos manuais de classificações nosológicas na psiquiatria, manuais cuja autoridade epistemológica e clínica são cada vez maiores nas sociedades contemporâneas. Na interface entre sociologia da saúde e sociologia da moralidade, a presente pesquisa pretende verificar especialmente como ocorreu o processo de “medicalização do mal” até sua chegada aos manuais médicos psiquiátricos, os quais hoje procuram explicar o mal – ou, pelo menos, suas manifestações “patológicas” – por vias biologizantes (por exemplo, pelo Transtorno de Personalidade Antissocial, vulgarmente conhecido como “psicopatia”). Para tanto, é preciso discutir alguns dos múltiplos significados e representações sobre o mal, aproximando-as e contrastando-as às maneiras pelas quais ele passa hoje a ser compreendido e classificado naqueles manuais e, por meio deles, na sociedade mais ampla.