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Revista Estudos de Sociologia (PPGS-UFPE) chama para submissão de trabalhos ao Dossiê “Formas e substâncias do público”

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A Revista Estudos de Sociologia está recebendo artigos, entrevistas e resenhas para o Dossiê “Formas e substâncias do público”, sob a organização de Kadma Marques (PPGS-UECE) e Marcílio Brandão (PPGS-UECE), a ser publicado na próxima edição da revista.  

O prazo para submissão de trabalhos ao dossiê vai de 01/02/2019 até 15/03/2019. Interessado(a)s devem se cadastrar e submeter seu texto na plataforma digital do periódico: https://periodicos.ufpe.br/revistas/revsocio. 

Dossiê “Formas e substâncias do público”

O público é temática importante em diversas áreas de conhecimento e de ação – da política às artes, passando por filosofia, economia, história, geografia, meio ambiente, administração, comunicação etc. Procurando ir além dessa presença difusa, no entanto, o dossiê aqui proposto busca ampliar especificamente o espaço de reflexão sociológica em língua portuguesa acerca da questão. Dentre os pontos de partida analíticos para esta empreitada, podemos destacar a influência de uma tradição pragmatista que tende a enfocar o público como experiência, tal como apontam Cefaï e Terzi (2012), mas também destacamos enfoques do público como espectador – agente e produto de recepção, tal como introduzido por Esquenazi (2009). Como destino almejado deste dossiê, pretendemos contribuir para a difusão de diferentes perspectivas de análise e propiciar um debate sociocientífico esclarecido sobre os significados e as consequências de “públicos”.

Um dos aspectos que abordaremos refere-se à própria natureza do público, isto é, o que queremos dizer (ou fazer) ao tematizá-lo. Por isso, encorajamos a proposição de artigos acerca das diferentes significações de que a noção se reveste, assim como dos usos diversos aos quais ela se presta no mundo social. Consideramos como “público” desde os diferentes ajuntamentos efêmeros de co-presentes até o compartilhamento de expectativas e pretensões que caracterizam uma comunidade de interesses. O que (e como) se faz para se chegar ao compartilhamento de interesses é, com efeito, um dos eixos da reflexão que pretendemos expor neste dossiê.

A suposta inércia ou “passividade” de alguns públicos também nos interessa como problemática sociológica. Veja-se, por exemplo, o caso dos mundos das artes, onde – como disse Goffman (2012 [1974], p. 169) acerca do público de teatro –, “só se pode pedir atenção, consideração e o pagamento da entrada”. No extremo oposto a essa concepção, podemos apontar o público ativo do teatro-fórum de Augusto Boal (1999) ou ainda, para voltar às ciências sociais, o “público integral” das performances contemporâneas, como nos ensina Schechner (1988). Em face desses exemplos, podemos constatar que a arte metaforiza a vida, podendo servir como apoio para a discussão sociológica de experiências sociais atuais nas quais a ação ou inércia do público tem um papel muito significativo. Esperamos poder publicar reflexões acerca do que podem os públicos de hoje, assim como dos processos pelos quais se passa da inércia à ação ou vice-versa.

Como pano de fundo das motivações dos organizadores deste número está um questionamento sobre a antítese entre público e privado. Na esteira pragmatista de Dewey (1927), reconhecemos diversos problemas tradicionalmente associados à noção do “privado” como questões de interesse público e encorajamos reflexões acerca dos processos de transição, metamorfose e/ou sobreposição entre o público e o privado. Um dos nossos interesses centrais é justamente o processo de publicização de determinadas questões e processos, a exemplo do que fez Gusfield (1981) ao discutir como o problema de dirigir sob efeito de álcool tornou-se uma questão de interesse, debate e intervenção pública.

Deste modo, podemos sintetizar os interesses da publicação deste número em alguns eixos atravessados pelas artes e pela política, a saber:

  1. Processos de constituição do(s) público(s): em contraponto a concepções transcendentais do que vem a ser público, buscamos reunir reflexões sobre como determinados atores ou questões se tornam públicos. Quais (e como) diferentes interesses e práticas atravessam a publicização de segmentos ou fatos sociais?
  2. Ferramentas e resultados da ação e da inércia: as leis, as artes, as emoções, a administração pública, os movimentos sociais e muitas outras experiências contemporâneas instrumentalizam ou são instrumentalizadas na ação ou para a ação de públicos. Quais e como diferentes experiências cotidianas servem para mobilizar ou deter a ação de um ou mais públicos?
  3. Afetos e sensibilidades: para existir, um público precisa ser sentido. Não apenas o que se diz, mas também o que se faz e o que se sente importa para a circunscrição dos públicos e para torná-los perceptíveis. Por isto, reservamos lugar para artigos que abordem sentidos, afetos e valores presentes em experiências públicas.
  4. Lugares e tempos: aspectos cronológicos e espaciais incidem sobre o que se entende por público, constituindo uma variável importante para a compreensão do que podem os públicos de diferentes tempos e espaços. As artes e, sobretudo, a história e a geografia são domínios privilegiados de reflexão sobre estes aspectos, mas também encorajamos a reflexão sociológica sobre impactos cronológicos e espaciais na ação e na configuração de públicos.
  5. Produções, riscos e consumos: em meio a crises diversas, é notável a possibilidade de catástrofes no presente e num futuro próximo. Tal preocupação passa tanto pelos riscos em relação ao que consumimos quanto pelos perigos de parte daquilo que produzimos no mundo contemporâneo. Por isto, encorajamos também discussões sobre hipóteses que envolvam os fins da humanidade, do planeta, das liberdades, das artes, dos alimentos, das ciências etc. Como e por que um ou outro destes fins se torna público?

A partir destes eixos iniciais de estímulo à reflexão, convidamos interessadas/os a submeter propostas de artigo para o presente dossiê de acordo com as diretrizes de submissão da Revista Estudos de Sociologia.

Bibliografia citada

BOAL, Augusto. Jogos para atores e não-atores. 2a edição (revista e ampliada). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1999.

CEFAÏ, Daniel; TERZI, Cédric (dir.). L’expérience des problèmes publics. [Collection Raisons Pratiques]. Paris: Éditions de l’École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), 2012.

DEWEY, John. The public and its problems. New York: Henry Holt and Co., 1927.

ESQUENAZI, Jean-Pierre. Sociologie des publics. [Collection Repères]. Paris: La Découverte, 2009.

GOFFMAN, Erving. Frame analysis. New York: Harper and Row, 1974 [citado a partir de edição brasileira: Os quadros da experiência social: uma perspectiva de análise. Petrópolis: Vozes, 2012]

GUSFIELD, Joseph. The culture of public problems: drinking-driving and the simbolic order. Chicago and London: The University of Chicago Press. 1981.

SCHECHNER, Richard. Performance theory. New York: Routledge, 1988.

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