Fonte da imagem: amazônia real/bruno kelly
Por Maria Eduarda da Mota Rocha (Professora do Departamento de Sociologia da UFPE)
Hoje acordei com um gosto amargo na boca, sabendo que vivo em um país em que mais de 50 milhões de pessoas não veem problema em votar em um tipo como o atual presidente.
Vão lá na urna, digitam seu número e não sentem náuseas ao ver aquele rosto responsável por tantos atos abomináveis que não vou enumerar, porque são conhecidos. E não é por desconhecimento que escolhem esse candidato. Muitos o escolhem por afinidade de crenças mesmo.
Nossa tristeza não é por descobrir que existe conservadorismo no Brasil. Isso não é novidade. Nossa tristeza é por saber o tamanho desse conservadorismo, a ponto de sustentar um candidato que só tem a pauta dos costumes a oferecer, como uma cortina de fumaça à queda do padrão de vida da maioria dos seus governados. Por medo de um ataque muito mais imaginário que real aos seus valores, muitos aderem a uma figura como esta.
E os outros? O que a adesão de última hora ao segundo colocado no pleito de ontem sugere é que o medo de ver Lula eleito no primeiro turno talvez tenha feito eleitores de Simone e Ciro mudarem de voto antecipadamente. A boa notícia é que isso talvez indique uma maior possibilidade de voto à esquerda nos que ficaram. A má notícia é que a construção histórica do antilulismo, responsável pela criação desse “fantasma” que nem os governos moderados do PT conseguiram dissolver, até aqui pode ser mais forte do que o antibolsonarismo que poderia ter se alimentado do descaso com a pandemia, da gestão desastrada da economia e…quem quiser que complete a lista.
O gosto amargo vem da pergunta: que sociedade é essa que poderia ter mais medo de Lula do que de Bolsonaro?
Embora, nesse caso, o tempo verbal faça toda a diferença. Lula teve seis milhões de votos a mais e tem tudo para fechar a fatura no dia 30 de outubro. É que, no Brasil, tristeza e alegria se completam.
Vamos à luta!
Recife, 03/10/2022
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