o método na loucura séries

“Garota, eu vou pra Califórnia”…resolver os problemas da eletrodinâmica quântica, por Gabriel Peters

Sobre o momento “eureca!” e outros estágios do processo criativo na ciência e na arte

Por Gabriel Peters

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Notinha preliminar: O texto abaixo discute o novo, mas não é novo ele próprio. Escrito no final de 2013, esse ensaio andava por aí sem uma casa digital. Como ele trata, afinal, de ambivalências na psicologia da criatividade na arte e na ciência, achei que valeria a pena abrigá-lo aqui no Labemus, como parte da série O método na loucura. Fiz correções e polimentos lá e cá, valendo-me de alguma sabedoria adquirida junto com o envelhecimento pelo qual passei desde então (no Brasil dos anos de 2013 a 2021, o equivalente a uns 84 anos no mínimo).

Nu em Siracusa

Conta-se que, certo dia, o genial matemático grego Arquimedes mergulhava em sua banheira para a lavagem dos justos quando teve um súbito insight: o empuxo vertical exercido pelo fluido sobre seu corpo seria idêntico ao peso do volume de líquido deslocado por ele. A euforia da descoberta teria feito o gênio dos números sair correndo nu pelas ruas da cidade de Siracusa gritando “Eureka! Eureka!” – o termo grego para “encontrei”, “achei” “descobri” etc. 

Embora não haja qualquer evidência histórica da veracidade dessa narrativa em particular, não resta dúvida quanto à existência desses brilhantes flashes criativos que pipocam repentinamente nas mentes de cientistas ou artistas, muitas vezes sem que uns e outros sequer estivessem concentrados na tarefa de criação. Tais momentos de iluminação fascinam investigadores da criatividade precisamente porque parecem conferir a ela o estatuto de fenômeno quase místico, situado para além da compreensão empírica. Um estudo detido da criação artística e da descoberta científica mostra, no entanto, que esses momentos são intimamente dependentes de aspectos mais prosaicos do trabalho criativo. Esse labor contínuo envolve não apenas a coleta paciente das informações que poderão combinar-se misteriosamente em um instante “eureca!” (versão brasileira), mas também a transformação desses insights instantâneos nas obras acabadas que constituem, afinal, as verdadeiras realizações criativas (Wallas, 1926). Vejamos.

1) Preparação 

Com a possível exceção do fiat lux divino que abre o Gênesis, nenhuma realização criativa brota do nada. Nos casos da arte e da ciência, todo produto original pressupõe um nível substancial de familiaridade com o legado informacional de um domínio artístico ou científico relevante, o próprio legado que fornece aos criadores as ferramentas cognitivas e expressivas indispensáveis à feitura do seu produto original. Com efeito, leitoras versadas na teoria social podem prontamente aplicar à compreensão de um produto excepcionalmente criativo o conceito técnico de emergência (Sawyer, 2012). A noção se refere aos processos em que componentes diversos (ideias, métodos, estilos, materiais) são combinados de maneira a gerar algo novo, algo cujas características não se confundem com aquelas de qualquer das suas partes isoladas. Felizmente, para bem formularmos o conceito, não precisamos recorrer nem à complexidade da teoria nem à teoria da complexidade. Em vez do jargão abstruso da analítica transdisciplinar de processos emergentes (delícia!), podemos pedir o auxílio das imagens poéticas de uma carta de Sêneca ao seu amigo Lucílio. Lá, a diferença entre o mero agregado ou justaposição de ideias, de um lado, e a união destas em uma síntese de mais alta ordem, de outro, é exposta sob a forma de uma diretriz intelectual:

…todas as substâncias que tivermos colhido de leituras variadas, [devemos] ordená-las – pois melhor se conservam as coisas se cada uma está em seu lugar – e depois, aplicando toda a atenção e a faculdade de nosso engenho, fundir em um sabor único todos aqueles diversos sumos, de maneira que, conquanto se veja de onde se extraíram, se demonstre igualmente que têm agora um ser diferente do que ali tinham. (…) Não vês de quantas vozes se compõem um coro? E, contudo, de todas elas não se forma mais que uma. Uma é aguda; outra, grave; outra, média. Juntam-se as vozes femininas e as varonis, e as flautas acompanham-nas. Cada uma dessas vozes se faz indistinta, e não se ouve senão o conjunto” (Sêneca, 2002: 108-110).

A absorção dos conhecimentos necessários à elaboração de um produto criativo , apto a ser valorizado em um campo artístico ou científico, surge como requisito preparatório, seja em esferas caracterizadas por uma evolução relativamente linear – por exemplo, na ciência física, em que só se torna possível “enxergar mais longe” quando se está apoiado “sobre os ombros de gigantes”, para utilizar a imagem imortalizada por Newton e outros -, seja em domínios simbólicos em que a ideia de evolução progressiva não parece tão facilmente aplicável (p.ex., nas artes visuais), mas em que formulações criativas florescem, do mesmo modo, de associações entre elementos ideativos (teses, valores, técnicas, temáticas) já acumulados pelo campo.

A conceituação dos produtos criativos como combinações originais entre elementos já existentes se vale da evidência de que muitos dos mais decisivos avanços na história do pensamento humano derivaram de conexões inesperadas entre domínios intelectuais distintos, até então percebidos como distantes entre si. Nas disciplinas científicas, em particular, é muito comum que deparemos com achados possibilitados pelo trânsito de um mesmo cientista entre campos diversos, trânsito que envolve a transposição de informações substantivas, técnicas de pesquisa e estilos de pensamento de um campo para outro. O estilo imagético e espacial das cogitações de Kekulé sobre as bases estruturais da química orgânica, por exemplo, foi alimentado por suas preocupações anteriores com a arquitetura, ocupação que ele outrora pensava em seguir. De modo análogo, a invenção do oftalmoscópio por Helmholtz obviamente se beneficiou do fato de que sua formação em medicina havia sido precedida por um absorvente interesse pela ótica (Sawyer, 2012). Isto dito, segundo o testemunho de muitos artistas e cientistas criativos, estas associações originais não são fruto apenas de uma busca deliberada. Elas também se beneficiam de misteriosos processos de incubação inconsciente.

2) Incubação

Eis que, entre a coleta de ingredientes e o insight criativo, viria o segundo e, possivelmente, o mais enigmático dos estágios do processo de invenção: a incubação. Trata-se de uma dinâmica mental em que as ideias internalizadas pelo criador entram em intenso jogo associativo. Desde o matemático Henri Poincaré, vários autores enfatizaram que boa parte desse exercício combinatório se desenrolaria à margem da consciência. Esta seria “requisitada” apenas nos momentos em que uma das várias combinações ensaiadas pelo inconsciente se revelasse valiosa, saltando à atenção do sujeito sob a forma de um insight súbito – um “estalo de Vieira”, como já se disse na minha (atual) terra. Poincaré oferece o testemunho de sua própria experiência:

Dirigi minha atenção ao estudo de algumas questões aritméticas, aparentemente sem muito sucesso e sem suspeitar da existência de qualquer conexão com minhas pesquisas precedentes. Enojado com meu fracasso, fui passar alguns dias no litoral e pensei em outras coisas. Certa manhã,… veio a mim a ideia, com…as mesmas características de brevidade, subitaneidade e certeza imediata, de que as transformações aritméticas de formas quadráticas ternárias indefinidas eram idênticas àquelas da geometria não euclidiana. (…) Muito surpreendente é, de início, essa aparência de iluminação súbita, um sinal manifesto de um longo trabalho prévio inconsciente” (Poincaré, 2000: 86; 90).

O que são “formas quadráticas ternárias indefinidas”? Não tenho a menor ideia, mas o  próprio Poincaré (op.cit.: 88) me tranquilizou ao escrever que é possível compreender muito da psicologia da invenção matemática sem saber bulhufas sobre os teoremas citados. De fato, o mais importante aqui é o argumento do matemático francês acerca do “trabalho do inconsciente”, uma concepção que obviamente não deve ser confundida com aquela pressuposta em teorizações psicanalíticas. As perspectivas mais recentes na psicologia cognitiva tendem a pintar o inconsciente como uma vasta máquina de processamento de informações, em vez da caverna de impulsos sexuais e agressivos reprimidos que é retratada na metapsicologia freudiana.

A tese de que o trabalho de incubação envolve uma boa dose de manejo inconsciente de informações se ancora no fato, reportado por muitos criadores proeminentes na arte e na ciência, de que seus melhores achados pipocaram nas suas consciências quando elas ou eles não estavam diretamente mergulhados em seu trabalho, mas imersos em outras atividades – como os períodos de semidescanso mental durante uma caminhada ou na lavagem da louça, períodos nos quais a consciência vaga por diferentes caminhos, sem que haja um esforço de direção firme para tal ou qual objetivo intelectual. Como notou um mestre dos mestres

As ideias nos chegam quando lhes apraz, e não quando queremos. As melhores ideias ocorrem realmente à nossa mente da forma que Ihering descreve: ao fumarmos um charuto no sofá; ou, como Helmholtz diz de si mesmo, com exatidão científica: quando caminhamos por uma rua que sobe lentamente; ou de qualquer outra forma semelhante. De qualquer modo, as ideias chegam quando não as esperamos, e não quando estamos pensando e procurando em nossa mesma de trabalho” (Weber, 1982: 162). 

Após um período longo de introspecção concentrada acerca de um determinado problema, o indivíduo abandona seu esforço consciente. Ao que parece, entretanto, algumas partes do cérebro ativadas pela tarefa continuam trabalhando sobre o problema em nível infraconsciente. Weber exagera ao sugerir que inspirações criadoras não podem surgir em meio à busca deliberada “em nossa mesa de trabalho”, mas tem toda razão em afirmar que as ideias que acorrem à mente durante a longa caminhada ou a apreciação do charuto no sofá não o fariam caso nosso intelecto não houvesse sido previamente estimulado a encontrá-las: os insights repentinos em contextos exteriores ao espaço de trabalho “certamente não nos ocorreriam se não tivéssemos pensado à mesa e buscado respostas com direção apaixonada” (idem).

3) Insight 

Algumas explicações destes momentos “eureca!” em períodos desligados da atividade intelectual relevante poderiam prescindir de referências à incubação inconsciente, apontando apenas para o fato de que, fora dos contextos de trabalho, em situações em que a consciência vaga a esmo, a ausência de uma direção consciente à reflexão incrementa nossa flexibilidade associativa, favorecendo a chance de que uma combinação pouco usual seja formulada na resposta a um dado desafio. Há também a explicação baseada no conceito de “serendipidade”, referente aos casos em que descobertas resultam de acidentes felizes. As ilustrações mais citadas de ocorrências serendipitosas são aquelas em que cientistas descobrem uma coisa enquanto procuram por outra. Por exemplo, no final dos anos 1920, Alexander Fleming cultivava colônias de bactérias do tipo Staphylococcus em uma placa de Petri quando acidentalmente notou a presença de um molde que as destruía: Penicillium – fonte, é claro, da primeira droga antibiótica. Mais pertinentes às preocupações deste texto são os casos de serendipidade em que o indivíduo encontra a resposta a um problema que o preocupa graças a um estímulo contingente vindo de um cenário exterior ao seu trabalho. Diz-se que Johannes Gutenberg, por exemplo, teria tido a ideia da máquina de impressão quando observava casualmente prensas de vinho durante um período de colheita da uva.

Outra ilustração de um encontro feliz ou “serendipitoso” em que o acaso favorece uma mente preparada, como diria Louis Pasteur, pode ser visto no desenvolvimento de incubadoras para recém-nascidos no final do século XIX. O estímulo ambiental contingente em questão? Pintinhos no zoológico. Você já ouviu falar de Stéphane Tarnier e Odile Martin? Eu também não havia, mas é possível que eu e você estejamos vivos graças aos dois. Tarnier era um obstetra parisiense que atendia uma clientela predominantemente pobre em uma Maternité de Paris no final dos anos 1870, um período em que a mortalidade infantil, mesmo em um contexto relativamente modernizado como o da capital francesa, era assustadoramente alta: cerca de 20%, sem contar a taxa bem maior no caso de nascidos prematuros. Num de seus dias de folga do trabalho médico, o obstetra resolveu fazer uma visita ao Jardim Zoológico da cidade, próximo à Maternidade, e deparou ali com uma seção que continha chocadeiras de frangos regulando a temperatura do ambiente em que pintinhos vinham à luz. Momento de inspiração! Tarnier logo pediu a colaboração de Odile Martin, a habilidosa encarregada da criação das aves domésticas no zoológico parisiense, para juntos construírem um aparato técnico similar, o qual permitisse manter uma temperatura cálida em torno dos bebês recém-nascidos. A simples utilização de garrafas de água quente embaixo de caixas de madeira, como abrigo dos bebês em um ambiente aquecido,
fez a taxa de mortalidade entre os pequenos com peso menor do que o normal cair
de 66% para 38%.

Essa inovação científico-tecnológica tão importante nasceu, portanto, do entrecruzamento das preocupações profissionais que Tarnier trouxe consigo para um passeio fora do trabalho, de um lado, e um estímulo contingente (i.e., as técnicas de regulação da temperatura do ambiente em que pintos saíam de suas cascas no Zoológico), de outro. Stéphane e Odile deram a partida em um desenvolvimento rápido de equipamentos que aumentariam substancialmente as chances de sobrevivência de crianças recém-nascidas em boa parte do mundo:

As incubadoras modernas, suplementadas com oxigenoterapia e outros avanços, tornaram-se equipamento obrigatório em todos os hospitais americanos após o fim da Segunda Guerra Mundial, dando início a um espetacular declínio de 75% nas taxas de mortalidade infantil entre 1950 e 1998” (Johnson, 2010: 26). 

Vale mencionar, como último exemplo dos caminhos que vão da incubação ao achado, as situações em que o insight criativo ocorre em um domínio mais próximo do trabalho artístico ou científico do indivíduo. Este continua imerso, de algum modo, no seu métier, mas sem se concentrar exatamente sobre o problema para o qual o insight se dirige. Baseado em seus estudos de Darwin e Piaget, o psicólogo Howard Gruber (1989) afirmou que o sucesso inovador de certos cientistas é fortemente favorecido pelo fato de que eles mantêm uma “rede de empreendimentos”, isto é, um conjunto de projetos distintos, porém interconectados, que avançam de modo mais ou menos simultâneo ao longo de extensos períodos de exploração intelectual. Longe de se identificarem ao multitasker distraído e incapaz de se fixar verdadeiramente em qualquer tarefa intelectual, no entanto, os mantenedores de uma rede de empreendimentos interconectados alocam períodos para se concentrarem intensamente sobre um dado projeto, enquanto os demais não permanecem completamente invisíveis, mas latentes ou na “penumbra” da mente, prontos para serem mobilizados caso se mostrem relevantes. Assim, o trânsito entre diferentes projetos incrementaria a probabilidade de que conexões iluminativas e outrora insuspeitas entre os mesmos fossem encontradas. 

A realização intelectual magna de Charles Darwin, por exemplo, teria sido possibilitada pelo fato de que a teoria da evolução mediante o mecanismo da seleção natural estava fundada sobre uma multiplicidade de achados que ela unificava sob um mesmo guarda-chuva explanatório. O biólogo britânico não teria tido acesso a tais achados caso não houvesse se engajado, ao longo de décadas, em uma intrincada rede de empreendimentos diversos:

Darwin…tinha um imenso número de interesses paralelos…:estudava recifes de coral, criava pombos, desenvolvia elaborados estudos taxonômicos de besouros[i]  e cracas[ii], escreveu artigos importantes sobre a geologia da América do Sul, passou anos pesquisando o impacto das minhocas sobre o solo. Nenhuma dessas paixões era central para a argumentação que seria por fim publicada em A origem das espécies, mas todas forneceram úteis elos de associação e conhecimento à questão da evolução” (Johnson, 2010: 143).

Nas ciências sociais, por sua feita, é difícil encontrar um exemplar mais virtuosístico desse modo de trabalho científico, no qual múltiplas pesquisas simultâneas vão se integrando umas às outras em uma rede, do que a obra de Pierre Bourdieu

4) Elaboração e verificação 

Por último, o estágio da elaboração e da verificação. Entusiastas das virtudes do pensamento intuitivo têm grande apreço pelas histórias de cientistas ou matemáticos que experimentaram um insight inovador, já envolvido mentalmente por uma aura de certeza, muito antes de justificá-lo segundo as ferramentas intelectuais próprias de seu campo. Não há dúvida de que existem vários casos empíricos nos quais um grande pensador, ao invés de perfazer um caminho de provas e argumentos até chegar a uma descoberta criativa na conclusão (no sentido temporal) de tal percurso, experimentou primeiramente a conclusão (no sentido lógico) em um momento de insight, e só depois veio a fundamentá-la com os argumentos teóricos e evidências empíricas necessários para validá-la aos olhos do mundo ou, pelo menos, de seu microcosmo acadêmico. Não obstante, a ciência não teria chegado tão longe caso a sensação subjetiva e intuitiva de certeza, mesmo quando mantida por uma mente indubitavelmente genial, fosse tomada como evidência suficiente da veracidade de uma determinada tese. E, de fato, mesmo pensadores brilhantes, agraciados com diversos insights intuitivos que se revelaram válidos à luz de sua elaboração posterior, foram lúcidos e sinceros o suficiente para reconhecer que achados vivenciados com a mesma sensação mental de certeza podiam ser falsos ou inadequados. Uma ilustração extrema disso foi dada pela mente brilhante do matemático John Nash, ganhador do Nobel de Economia. No auge de seus delírios psicóticos, ele acreditava ter sido escolhido por alienígenas para tornar-se imperador da Antártica. Quando um colega perguntou a ele como era possível que um homem com tanto talento para insights lógico-matemáticos pudesse acreditar em coisas tão absurdas, Nash respondeu que suas ideias sobre extraterrestres vinham à sua mente do mesmo modo que suas sacadas matemáticas: envoltas em uma aura de certeza. 

O estágio da elaboração e verificação, eivado como é de erros, correções, ajustes, reformulações, testes e experimentos, certamente é do maior interesse para abordagens que buscam desmistificar a impressão de espontaneidade miraculosa que aparece em tantas mitologias da criação artística ou científica. Muitos criadores geniais foram honestos a ponto de confessar que seguiam um método parecido com o de Linus Pauling para gerar boas ideias: primeiro, formule muitas ideias; depois, descarte aquelas que não são boas. W.H. Auden escreveu, certa feita, que “é provável que, no curso da sua vida, um grande poeta escreva mais poemas ruins do que um poeta menor”. Investigações empíricas exaustivas mostraram não apenas que nem tudo que sai da mente de um gênio é genial, mas também que gênios tendem a cometer erros na mesma proporção que seus colegas normais de espécie, frequentemente gerando um número comparativamente maior de ideias errôneas simplesmente porque formulam ideias em maior quantidade do que o comum dos mortais. Galileu manteve-se firme na tese de que os planetas moviam-se em uma trajetória circular, a despeito da crescente evidência em favor de suas translações elípticas. Darwin combinou, à sua teoria da evolução, uma explicação da hereditariedade fundada na chamada “doutrina da pangênese”, hoje abandonada pelos biólogos em função dos desenvolvimentos da genética desde Mendel. Einstein foi ficando mais e mais isolado dos seus colegas físicos em sua busca por uma teoria unificada e seu distanciamento da mecânica quântica (Sawyer, 2012: 131). E por aí vão os exemplos…

Mas não são apenas evidências anedóticas que apoiam a conexão entre produtividade, experimento (lato sensu) e criatividade excepcional. Usando as ferramentas da historiometria, o psicólogo Dean Keith Simonton (1999) deparou com uma forte correlação entre níveis gerais de produtividade, de um lado, e quantidade de criações historicamente significantes, de outro: os indivíduos que possuíam a maior produção ao longo de toda a sua vida tendiam a ser também aqueles com maior probabilidade de terem produzido um trabalho socialmente reconhecido como valioso. Estamos falando, é claro, de uma tendência estatística que não implica postular a inexistência das exceções que confirmam a regra: de um lado, os criadores perfeccionistas que passam tanto tempo polindo suas criações que terminam por gerar um volume comparativamente pequeno de obras com qualidade extraordinária (por exemplo, Flaubert); de outro, as nulidades intelectuais que produzem aos montes (vou deixar que você escolha seu exemplo predileto).

Garota, eu vou pra Califórnia”…encontrar a solução para os desafios da eletrodinâmica quântica: um estudinho de caso

Algumas instâncias reais de produção criativa quase se aproximam de uma exposição didática dos seus diferentes estágios. É o caso da síntese matematicamente elegante que o físico Freeman Dyson logrou realizar entre as teorias da radiação de Richard Feynman, Sin-Itiro Tomonaga e Julian Schwinger no final dos anos de 1940. Segundo relata o psicólogo consonantal Mihaly Csikszentmihalyi, a proposta de Dyson era tornar a eletrodinâmica inteligível em termos dos postulados do campo recém-inaugurado e efervescente da mecânica quântica. Felizmente, nem eu nem você precisamos compreender o que isso significa para entendermos algo da experiência criativa de Dyson, pelo menos no modo como ele a narra em entrevista (Csikszentmihalyi, 1996: 82-83):

Era o verão de 1948…(…) Havia um grande problema sobre o qual essencialmente toda a comunidade de físicos estava concentrada. (…) Naquele momento, o grande problema era chamado de eletrodinâmica quântica, uma teoria da radiação e dos átomos…a teoria estava uma bagunça e ninguém sabia como calcular com ela. (…) De qualquer modo, naquele momento, apareceram duas grandes ideias que estavam associadas a duas pessoas, Schwinger e Feynman, ambos cinco anos mais velhos do que eu. Cada um tinha produzido uma teoria da radiação, que parecia que funcionaria, embora ambas apresentassem dificuldades. Eu estava nessa posição feliz de familiaridade com ambos e pude conhecê-los e trabalhar a partir daí” 

A empreitada começa com Dyson já tendo ultrapassado a etapa de treinamento básico e, portanto, em condição de escolher um objeto de estudo mais sistemático e aprofundado. Sua imersão no campo o leva a perseguir o tema mais “quente” de investigação na física daquele período, para o qual ele está particularmente sensibilizado em função de sua proximidade pessoal e profissional em relação a dois dos cientistas que mais avançaram naquele domínio teórico até então. Dyson não tem somente um problema em mãos, mas uma intuição mais ou menos clara de que o caminho mais fecundo para a sua resolução consiste na tradução de insights de Feynman na linguagem matemática de Schwinger, mergulhando nessa tarefa que, em termos estratégicos, oferece a oportunidade de adicionar uma contribuição original e valiosa ao campo. 

Gastei seis meses trabalhando muito intensamente para compreender ambos claramente, o que significava simplesmente o trabalho duro…de calcular. Eu sentava durante dias e dias com grandes pilhas de papeis fazendo cálculos de modo que eu pudesse entender precisamente o que Feynman estava dizendo. Ao final de seis meses, tirei férias. Peguei um…ônibus para a Califórnia e passei umas duas semanas só passeando. (…) Depois de duas semanas na Califórnia em que eu não estava realizando nenhum trabalho, apenas visitando os lugares, peguei o ônibus de volta a Princeton e, de repente, no meio da noite, quando estávamos passando pelo Kansas, o todo meio que se tornou claro como um cristal…(…) Schwinger se encaixava lindamente, e Feynman se encaixava lindamente, e o resultado era uma teoria efetivamente útil. Aquele foi o grande momento criativo da minha vida”.

Aqui, vemos a passagem da fase de preparação, um esforço consciente e deliberado em avançar no esclarecimento de um problema, dando lugar a um período aparentemente ocioso em que, ao que tudo indica, as ideias coligidas no semestre passado são incubadas e processadas à margem da consciência – ou, pelo menos, de modo muito menos dirigido conscientemente, enquanto a mente de Dyson passeia pelos cenários californianos em outras atividades. A incubação nas duas semanas de férias é seguida por um momento de insight repentino, a experiência do “eureca!” no ônibus de volta para casa. Mas é claro que o processo não termina aí. Hora de voltar a trabalhar como um condenado: 

Então, tive de passar outros seis meses trabalhando sobre os detalhes, escrevendo tudo e assim por diante. O processo finalmente terminou com dois longos artigos em Physical Review, e esse foi meu passaporte para o mundo da ciência”.

Voilà. A parafernália teórica, conceitual e matemática de Dyson volta a ser mobilizada na avaliação crítica da aceitabilidade do insight, bem como na elaboração sistemática de seus contornos e implicações. A articulação entre as teorias de Schwinger, Tomonaga e Feynman por Dyson rendeu um prêmio Nobel…para os três primeiros, sob algum protesto de cientistas que julgaram que o último merecia a premiação pelo comitê sueco[iii]

Vai e vem entre estágios no processo de criação

É fundamental manter em mente, no que toca a essa tipologia dos estágios do processo de criação, o fato de que, em situações reais, as diferentes etapas não estão dispostas linearmente e de uma vez por todas, mas se alternam ao longo do labor de inovação. Assim, pode-se ver, por exemplo, que a maior parte das empreitadas criativas não se reduz a um único momento magno de descoberta, mas a um percurso mais longo de investigações, experimentações e elaborações pontuadas por mini-insights, pequenos passos incrementais gradativamente reunidos em um produto integrado que constituirá a verdadeira e duradoura contribuição. 

Vários motivos explicam o fascínio que todos nós temos pelas experiências do insight repentino: sua irrupção espontânea na mente; uma visão totalizante da solução de um problema condensada na epifania de uma fração de segundo; a sugestão de que dificuldades que assombraram diversos indivíduos ao longo de um século podem ser dissolvidas em um estalo. A ampla divulgação histórica dessas formas de se representar descobertas científicas e criações artísticas gerou uma expectativa sociocultural de que cientistas e artistas narrassem a odisseia de suas inovações nesses mesmos termos. Como sempre, aqui há espaço para o embelezamento proposital do itinerário intelectual e biográfico que desembocou no produto criativo, e não há dúvida de que a criatividade que alimentou a geração desse último pode colaborar também na formulação de uma história atraente para despertar o fascínio em torno daquela criação.  

Mas há também espaço para modalidades sinceras de ilusão retrospectiva. Os grandes gênios criadores não estão isentos das distorções e falhas de memória que afetam o comum dos mortais, tais como a tendência a representar, de modo irrealmente organizado, sequenciado e condensado, certas trajetórias de pensamento que, a bem da verdade, foram feitas de desvios, confusões e inúmeros pequenos passos claudicantes – passos que a narração retrospectiva tende a reunir em momentos mais raros e precisos de iluminação. Esse é um dos motivos que deveriam levar-nos a manter um pé atrás em relação às descrições introspectivas que artistas, cientistas e inovadores em geral oferecem quanto aos seus próprios processos criativos. Não se trata de descartá-los, é óbvio, mas de combiná-los, quando possível, com outras fontes de dados a respeito dos trajetos do pensamento criativo. Quais outras fontes? Bem, há este personagem extraordinariamente importante na história humana da criação artística e científica: o caderno pessoal de anotações.

Como viu William James, uma das metáforas que mais acorrem às pessoas para descrever a experiência da própria consciência é a de um fluxo – o pensamento consciente se desenrola obviamente no tempo, e a assimilação metafórica do tempo às águas de um rio ou do mar percorre um arco que vai do filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso – “Tudo flui”; “Não se pula duas vezes no mesmo rio” – até o filósofo brasileiro contemporâneo Lulu Santos – “Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia”; “Tudo muda o tempo todo no mundo…como uma onda no mar”. Seja como for, algumas das ideias que flutuam no rio ou no mar da consciência podem permanecer em sua superfície por um longo tempo, enquanto outras podem submergir e emergir em diferentes momentos, normalmente como resultado de estímulos exteriores contingentes (estes seriam como barcos de pescadores, em cuja rede por acaso reaparece aquele objeto que nem lembrávamos que tinha afundado). No entanto, certas noções, imagens e insights inventivos que pipocam em nossas mentes também podem, independentemente de seu valor intrínseco, desaparecer para sempre nas profundezas mentais de onde vieram. E é preciso ser um tipo especialíssimo de pessoa para lamentar a tristeza desse desaparecimento: “as ideias que perco causam-me tortura imensa” (Pessoa, 1986: 41). É por isso que muitos criadores recorreram ao método simples, mas extraordinariamente poderoso nas suas implicações de longo prazo, de registrar em cadernos (ou, hoje em dia, em alguma outra ferramenta tecnológica) quaisquer ideias que julgassem interessantes ou dignas de elaboração e desdobramento futuros. Tais indivíduos sabiam bem que, mesmo que um insight obtido em um momento qualquer não fosse diretamente relevante para os seus projetos criativos atuais, o seu registro impediria que ele desaparecesse no buraco do esquecimento, permitindo sua utilização ou reaproveitamento em outros projetos.

Os pensamentos objetivados nos cadernos de notas mantidos por tantos e tantos criadores – “os registros fósseis da inteligência”, na feliz expressão de Steven Johnson (2010: 68) – podem se revelar uma benção não apenas aos ditos cujos, como também àqueles que os estudam, inclusive como instrumento de correção de relatos autobiográficos. Com efeito, o contraponto entre essas duas fontes foi bem estabelecido pelo psicólogo Howard Gruber em seu estudo minucioso do desenvolvimento da teoria da evolução pela seleção natural por (ele de novo) Charles Darwin (Gruber, 1989).

Segundo a narrativa do próprio Darwin, em 1838, pouco mais de dois anos após voltar de sua viagem ao redor do mundo a bordo do HMS Beagle, ele resolveu ler, em busca de entretenimento e não por conta de interesses sistemáticos de sua pesquisa, um texto do reverendo Malthus. Nele, o autor vaticinava um perigoso descompasso entre o crescimento da população humana, que obedeceria a uma progressão geométrica ou exponencial, e a capacidade da humanidade em garantir a subsistência dos seus membros, que supostamente caminharia em progressão aritmética. Devido ao seu já vasto estoque de observações sobre os modos de inserção de plantas e animais em seus ecossistemas, Darwin, pré-sensibilizado à ideia de uma competição por recursos escassos que resultaria na sobrevivência de alguns e no desaparecimento de outros, afirmou que seu estalo consistiu na conversão da tese de Malthus em um retrato da história da natureza. Nesse retrato, espécies variadas seriam preservadas ou aniquiladas, ao longo do tempo, em função dos seus distintos graus de adaptação aos seus ambientes.

Gruber contrasta, no entanto, o relato autobiográfico de Darwin, em que o eminente biólogo descreve o germe de sua teoria como resultante de uma epifania súbita experimentada em uma leitura descompromissada do famoso ensaio pessimista de Malthus, com o que revelam os detalhados cadernos que o autor manteve ao longo das duas décadas de elaboração da teoria que o imortalizou. O que emerge deste contraste é uma pintura distinta: um processo mais lento, desdobrado em muitos capítulos de reflexão hipotética, meditação sobre fatos coletados e confronto interno de ideias. Nesse processo, há um vai e vem no qual os postulados centrais da teoria já aparecem em diversos pontos, inclusive antes de sua leitura do opus malthusiano, mas também se dissolvem em função de desvios e interrogações bem posteriores àquele momento de inspiração.

À luz dessa análise mais detida, a condensação da epopeia intelectual darwiniana em um momento “eureca!” aparece mais como uma simplificação conveniente de uma teoria que amadureceu paulatinamente. Como sempre, a realidade é mais complexa do que imaginam nossos cérebros de um quilo (ou um quilo e meio), inclusive no que toca aos retratos que esses órgãos fazem de seu próprio funcionamento.

Conclusão: Baudelaire, Flaubert, Kekulé

Charles Baudelaire disse em algum lugar que “a inspiração vem de se trabalhar todos os dias”. Com efeito, há uma lição central advinda de um estudo recente (despretensioso, mas muito sugestivo) dos hábitos diários de luminares da criatividade na arte e na ciência, de George Sand e Marie Curie a Maya Angelou e Toni Morrison (Currey, 2013): a disposição à inventividade não precisa ser – e, no mais das vezes, com toda certeza não é – uma propensão psicológica global que a criadora aplica a todas as esferas de sua existência. Ao contrário, o exame das rotinas de muitos criadores confirma in actu a sabedoria da sugestão de Flaubert: “sejas estável e bem ordenado em sua vida para que possas ser aguerrido e original em seu trabalho”.

Se as frases de Baudelaire e Flaubert servem de antídoto a qualquer mitologia simplista de inspirações inefáveis, é também óbvio que a inspiração súbita não pode ser mecanicamente reduzida a mero efeito da transpiração paciente. O ponto pode ser exemplificado com uma ilustração das ciências naturais. Como é sabido, o químico alemão August Kekulé relatou que sua descoberta da estrutura hexagonal da molécula de benzeno lhe acorreu em uma fantasia na qual visualizou átomos dançando, dando cambalhotas, combinando-se e fazendo movimentos serpenteantes (Robinson, 2011: 95-97). É ululantemente óbvio que, na ausência de sua formação especializada em química orgânica, a rêverie de Kekulé não teria resultado em qualquer descoberta científica. Por outro lado, o fato de que químicos igualmente bem informados não tenham chegado à mesma descoberta sugere que o domínio kekuleico das informações científicas relevantes constituiu uma condição necessária, mas não suficiente, para o surgimento daquele insight criativo. Mergulhar no domínio informacional de uma arte ou ciência certamente não garante qualquer achado valioso – apenas maximiza a possibilidade de que cheguemos a ele. Se eu escrevesse livros de autoajuda, traduziria em paulocoelhês da seguinte forma: “é somente ao entregar-se sem garantias à sua jornada que você adquire alguma chance de encontrar tesouros pelo caminho”. Podemos rir da pieguice eloquente, mas é verdade. 

Notas


[i] O interesse de Darwin por besouros já estava muitíssimo bem assentado nos seus tempos de estudante na Universidade de Cambridge, onde ele se engajava com empenho em competições de caça a esses insetos (cada um se diverte como pode). Para se ter uma ideia de quanto as diferentes espécies de besouro o fascinavam: certa feita, raspando a casca de uma árvore morta, ele deparou com dois tipos raros, capturando um em cada mão. Acontece que, como esse era (só aparentemente) seu dia de sorte, ele avistou uma terceira espécie. Para liberar uma de suas mãos, não hesitou em colocar um dos bichos na boca. O inseto era um “besouro-bombardeiro” que esguichou um fluido ácido na sua língua, dando a Charles um exemplo particularmente traumático de luta pela sobrevivência. Ao sentir a queimação na boca, Darwin cuspiu fora o besouro-bombardeiro e, no susto, acabou perdendo também os outros dois (Desmond; Moore, 2007: 78). 


[ii] A casa de Emma, Charles e seus dez filhos (como disse David Letterman, os Darwin realmente sabiam alguma coisa sobre a origem das espécies) era repleta de exemplares vivos e fósseis dos crustáceos marinhos chamados de cracas. Em uma comovente ilustração da tese sociológica de que as crianças tomam seus ambientes primários de socialização como padrão para o restante do mundo, temos o caso em que um de seus filhos, visitando a residência de um amiguinho, olhou em volta intrigado e perguntou: “onde é que seu pai guarda as cracas dele?”

[iii] Se for um erro, não chega a comparar-se, por exemplo, à entrega do Prêmio Nobel da Paz a Henry Kissinger, o tipo de acontecimento que, para alguns (Hitchens, 2005: 121), vindicou o ácido comentário do laureado George Bernard Shaw: “posso perdoar Alfred Nobel pela invenção da dinamite, mas apenas um demônio em forma humana poderia ter inventado o Prêmio Nobel”. Incidentalmente, Shaw invertia cruelmente os desejos de Nobel quanto à sua reputação póstuma, uma vez que a iniciativa de criação do prêmio sobreveio ao talentoso cientista, engenheiro e empresário quando ele teve a rara chance, partilhada com Mark Twain e Ernest Hemingway, de ler seu próprio obituário em diversos jornais, todos os quais davam relevo à multiplicação da mortandade pelo uso da dinamite. 

Referências 

CSIKSZENTMIHALYI, M. Creativity: flow and the psychology of discovery and inventionNew York: HarperCollins, 1996.

CURREY, M. Os segredos dos grandes artistas. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

DESMOND, A.; MOORE, J. Darwin: a vida de um evolucionista atormentado. São Paulo: Geração Editorial, 2007.

GRUBER, H. The evolving systems approach to creative work. In: D. B. Wallace & H. E. Gruber (Eds.), Creative people at work (pp. 3–24). New York: Oxford University Press, 1989.

HITCHENS, C. Letters to a young contrarianNew York: Basic Books, 2005.

JOHNSON, S. De onde vêm as boas ideias. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2010.

PESSOA, F. Obras em prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1986.

ROBINSON, A. Genius. Oxford: Oxford University Press, 2011.

SÊNECA. Aprendendo a viver. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

SIMONTON, D.K. Origins of genius. New York: New York University Press,
1999.

________Creative genius, knowledge, and reason: the lives and works of eminent creators. In: KAUFMAN, J.C.; BAER, J. (Org.). Creativity and reason in cognitive development. New York, Cambridge University Press, 2006.

WALLAS, G. The art of thought. New York: Harcourt, Brace & Company, 1926.

WEBER, M. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1982. 

 

 

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