Gabriel Peters – UFPE | professor de sociologia

Textos neste blog:

SÉRIES

Teoria social em pílulas

A etnometodologia de Harold Garfinkel

A fenomenologia de Alfred Schütz

Norbert Elias e suas afinidades com Pierre Bourdieu: relacionismo, agonismo e o conceito de habitus

Talcott Parsons e a teoria da ação

Verbete – Explicação e compreensão

(1): Incompatíveis ou complementares?

(2): Weber e seus contemporâneos

(3): Os tipos de ação social na sociologia compreensiva de Max Weber

(4): O que é individualista no individualismo metodológico de Max Weber

Bourdieu em pílulas

(1): teoria e pesquisa na sociologia

(2): objetivismo, subjetivismo e praxiologia

(3): introdução ao habitus

(4): algumas propriedades do habitus

(5): introdução à teoria dos campos

(6): o poder simbólico

(7): a crítica como sublimação

(8): um percurso intelectual

(9): a defesa de uma ciência social reflexiva 

(10): a política da socioanálise

Bourdieu, Sartre e o garçom de café: notinha de sociologia existencial sobre o nada (que somos)

Giddens em pílulas

(1): as vias de um pensador

(2): o legado das microssociologias interpretativas

(3): a dualidade entre ação e estrutura

(4): o “modelo estratificado” da ação e da personalidade

(5): história e sistemas sociais

(6): dois vivas para o ecletismo na teoria social

“Problemas centrais em teoria social”, de Anthony Giddens: um guia de leitura

Pânico da página em branco?

(1): “Um parágrafo merda por dia” e outras dicas para desbloquear sua tese

(2): mais dicas do Tio Agonia para desbloquear sua tese

Quer estudar para valer? “Fale sozinho”, “Esconda depois de ler” e outras dicas bizarras

Tome notas para sua tese; ou porque você precisa de uma segunda cabeça (extracraniana)

Enlouquece-te a ti mesmo

(1) Sobre os círculos infernais da autorreflexão

(2) Eu, minhas vozes e meus observadores

(3) Sobre as palavras e as coisas na esquizofrenia

(4) Trema…o estranhamento do mundo na esquizofrenia

(5) A desintegração do eu na vida cotidiana

(6) A estátua com insônia

(7) O doente imaginário

Fantasmas-na-máquina-no-mundo (1): fenomenologia e psico(pato)logia contextual

A solidão dos deprimidos: sobre virada afetiva e depressão

A imaginação sociológica da insanidade: notinha sobre sensibilidade histórica, sensibilidade antropológica e loucura

A loucura como experiência e representação: dois caminhos na sociologia da (in)sanidade

O método na loucura

(1) Uma série sobre ambivalências na psicologia da criatividade em arte e ciência

(2) Mozart, Karajan e por que jogar xadrez desenvolve a capacidade de jogar xadrez

(3) Três retratos da genialidade

(4) O ambíguo casamento entre saber e criatividade

Querida, minha biblioteca me engoliu: sobre timidez erudita e presunção criativa

Demais Textos 

Trollar até a morte: a persistência do bolsonarismo nos tempos do Corona

Verbete: profecia autorrealizadora

Por que o frango atravessou a rua? Exercícios (bestas) de estilo

Por que o frango atravessou a rua? (2): mais exercícios (bestas) de estilo – com Lucas Faial Soneghet, Marília Bueno e Diogo Corrêa

Vídeos

O Novo Espírito da Depressão: imperativos de autorrealização e seus colapsos na modernidade tardia

“Estamos todos doentes?”: uma conversa sobre sofrimento psíquico na contemporaneidade – com Kaliani Rocha e Bruno Nogueira

10 Vídeos da Série “Bourdieu em pílulas” no YouTube

Livros

A ordem social como problema psíquico: do existencialismo sociológico à epistemologia insana (São Paulo: AnnaBlume, 2017)

Percursos na teoria das práticas sociais: Anthony Giddens e Pierre Bourdieu (São Paulo: Annablume, 2015)

Alguns artigos publicados em periódicos

O novo espírito da depressão imperativos de auto realização e seus colapsos na modernidade tardia (Civitas)

Habitus, reflexividade e neo-objetivismo na teoria da prática de Pierre Bourdieu (Revista Brasileira de Ciências Sociais)

O social entre o céu e o inferno: a antropologia filosófica de Pierre Bourdieu (Tempo Social)

A ciência como sublimação: o desafio da objetividade na sociologia reflexiva de Pierre Bourdieu (Sociologias)

De volta à Argélia: a encruzilhada etnossociológica de Pierre Bourdieu (Tempo Social)

O mal-estar na representação: autoidentidade, esquizofrenia e a teatralidade da vida social (Sociedade & Estado)

The social as heaven and hell: Pierre Bourdieu’s philosophical anthropology (Journal for the Theory of Social Behavior)

Explanation, understanding and determinism in Pierre Bourdieu’s sociology (History of the Human Sciences)

Bourdieu’s Algerian crossroads (International Sociology)

Vários outros artigos aqui

lattes

Linhas de pesquisa

O novo espírito da depressão: imperativos de autorrealização e seus colapsos na modernidade tardia

A pesquisa desenvolve uma interpretação sociológica da suposta “pandemia de depressão” que assola a contemporaneidade. Sustento que os mal-estares psíquicos comumente descritos como experiências depressivas devem ser compreendidos à luz das formas de subjetividade produzidas ou, pelo menos, encorajadas pela modernidade tardia. Com base no retrato sócio-histórico do “novo espírito do capitalismo” formulado por Boltanski e Chiapello, defendo que os atributos de iniciativa, empreendedorismo e adaptabilidade tornaram-se imperativos da individualidade contemporânea não somente no mundo do trabalho, mas também em diversos outros domínios existenciais, tais como o cuidado com o corpo e as relações erótico-afetivas. Sem desconsiderar a inflação de diagnósticos psiquiátricos como parte das causas por trás da alegada pandemia de depressão na atualidade, a pesquisa parte da hipótese de que as formas muito reais de sofrimento psíquico classificadas nesses termos são a moeda reversa, por assim dizer, de demandas sistêmicas pela autorrealização individual: o colapso depressivo da iniciativa e a ausência de “projetos” substituem o “empreendedorismo de si”; a interrupção do movimento sobrepuja a adaptabilidade flexível do self a uma sociedade de mudanças aceleradas; e a experiência do isolamento existencial substitui a esperada comunicabilidade do sujeito-trabalhador contemporâneo como infatigável networker. Finalmente, vislumbrando os dilemas de uma “política da depressão” e de um “ativismo na inatividade”, a pesquisa ensaia considerações ético-políticas sobre os limites que a civilização contemporânea coloca à “ecologia psíquica” e à “economia energética” dos indivíduos nela imersos.  

Por uma praxiologia da loucura: um estudo em heurística da insanidade

A expressão “heurística da insanidade” designa uma estratégia metodológica que se mostrou fecunda em âmbitos de pesquisa tão variados quanto a psicanálise do século XX e a neurociência mais recente, qual seja, o estudo de experiências anômalas ou “patológicas” como caminho privilegiado para a iluminação de suas modalidades comuns e “normais”. O programa de pesquisa sobre a praxiologia da loucura – ou, mais especificamente, sobre teorias da prática e fenomenologia da esquizofrenia – transpõe esse artifício intelectual para os retratos sociológicos da ação humana. Nesse sentido, trata-se não apenas de mobilizar a praxiologia na compreensão de experiências esquizoides e esquizofrênicas, mas também de repensar criticamente as teorias da prática à luz do que essas experiências nos ensinam sobre o ser humano e seus múltiplos modos de ser-no-mundo. O esforço analítico tenta escapar ao simplismo de certa psiquiatria que só enxerga dor e déficit na psicopatologia, de um lado, mas também rejeita, de outro, visões românticas que percebem somente o que a psicopatologia possui de lucidez e inventividade, passando ao largo do que ela acarreta em sofrimento. Segundo os achados dessa pesquisa em curso, várias das transformações experienciadas em processos esquizoides e esquizofrênicos, a despeito de seus custos psíquicos, não podem ser pensadas como meros déficits funcionais (cognitivos, práticos, afetivos etc.). Em vez disso, elas têm de ser compreendidas como atitudes existenciais complexas que problematizam, em ato, uma série de postulados da teoria praxiológica da ação: por exemplo, o vínculo entre mente e mundo dá lugar à sensação de um abismo entre a própria subjetividade e a realidade externa (“kantianismo” vivido); a vivência do próprio corpo como instrumento prático de intervenção sobre a realidade dá lugar a um estranhamento radical da mente quanto à própria materialidade (“cartesianismo” vivido); a experiência tácita das palavras como veículos de transparentes de significado dá lugar a um senso agudo da arbitrariedade dos signos (“estruturalismo” vivido); e assim por diante, com dezenas de outras modalidades de experiência que a pesquisa pretende mapear.