Por Gabriel Peters
O social como espaço de competição
Como vimos nos posts anteriores dessa série, a sociologia de Bourdieu busca efetuar uma “ruptura epistemológica” com o saber e a linguagem de senso comum. Uma das manifestações dessa almejada ruptura consiste no seu esforço para superar a imprecisão da noção leiga de “sociedade”, substituindo-a por conceitos técnicos que designem, de modo mais exato, a estrutura e a dinâmica da vida social. De acordo com o sociólogo francês, o modo mais fecundo de analisar o mundo societário é pensá-lo em termos topológicos, isto é, como um espaço de posições. No seio deste espaço, as posições se diferenciam entre si a partir de uma distribuição desigual de bens e recursos escassos, os quais podem ser os mais diversos (do dinheiro ao poder político, da autoridade científica ao carisma religioso). Esta distribuição não é estática, mas mantida em movimento graças ao fato de que aqueles bens e recursos são disputados pelos agentes que ocupam as diferentes posições no dado espaço. Pois bem: a noção central que Bourdieu cunhou para o exame sociológico desses espaços estruturados de disputa é aquela de “campo”.
Ao longo de sua obra, Bourdieu tende a alternar entre um sentido mais abrangente e um sentido mais restrito do conceito de “campo”. Na sua significação mais geral, um campo é qualquer ambiente social que pode ser construído como um espaço de posições objetivas definidas por montantes desiguais de recursos de poder, ou seja, do que ele chama de formas de “capital” no sentido amplo da expressão. Nessa acepção mais abrangente, o próprio “espaço das classes sociais” na França contemporânea poderia ser tido como um campo (Bourdieu; Wacquant, 1992: 94), o mesmo acontecendo, por exemplo, com o universo da “religião na Idade Média” (Bourdieu, 2003: 119). Em outros momentos da sua obra, entretanto, Bourdieu utilizou a noção em um sentido mais circunscrito a contextos sociais modernos, marcados que são pela emergência de esferas de atividade relativamente autônomas. O surgimento dos campos científico, religioso, artístico e econômico (no sentido restrito da economia monetária), por exemplo, resultou de desenvolvimentos históricos específicos à modernidade, tais como a “diferenciação” (Durkheim) de seus âmbitos de atividade e a “autonomização das esferas de valor” (Weber), graças à qual valores como verdade, beleza e justiça, antes concebidos como indissolúveis, passaram a ser vistos como independentes uns dos outros.
No cerne da sociologia de Bourdieu, encontra-se a tese de que atuar no universo social é competir, mesmo em contextos em que o agente não tem consciência clara de que está envolvido em uma competição (p.ex., quando pais matriculam sua filha em um colégio particular ou quando uma pessoa fala um idioma segundo a norma culta). O mundo social é composto de cenários de disputa por bens e recursos escassos, que não se reduzem a propriedades materiais, mas abarcam também posses simbólicas as mais variadas: “‘palavras justas’”, “sorrisos”, “apertos de mão”, “elogios”, “atenção”, “fofoca”, “informação científica” etc. (Bourdieu, 1977: 178). Em tais disputas, os agentes utilizam estrategicamente certos meios de competição socialmente tidos como legítimos, ou seja, formas também variadas de capital. Bourdieu define os capitais eficazes na vida social tanto como meios quanto como fins nas suas disputas. Uma ilustração óbvia dessa duplicidade é dada pelos empresários que investem o capital econômico que já possuem na tentativa de acumular, indefinidamente, mais capital econômico. Também existem, entretanto, processos de “conversão” de uma modalidade de capital em outra – por exemplo, quando o investimento na aquisição de credenciais educacionais prestigiosas obedece ao interesse de obter um posto bem remunerado no mercado de trabalho, isto é, de converter “capital cultural” em capital econômico.
As formas de capital
Estão citadas acima as duas modalidades de capital que Bourdieu concebeu como mais importantes na moderna sociedade de classes, exemplificada pelo caso francês (mas não redutível a ele): a) o capital econômico de posses materiais e poder aquisitivo; b) o capital cultural de competências educacionais socialmente prestigiadas, o qual pode assumir os formatos incorporado (p.ex., capacidade de expressão verbal), institucionalizado (p.ex., um diploma de uma universidade de prestígio) e objetivado (p.ex., a presença de uma ampla biblioteca no espaço doméstico de socialização). A distribuição dos agentes em classes e frações de classe se dá, conforme o autor, não somente devido ao seu volume global de capital econômico e cultural somados, mas também da composição relativa desse volume (Bourdieu, 2007: 243)
Com base nestes critérios de regionalização do espaço de classes moderno, o setor mais abastado de posições sociais é ocupado pela “fração dominante da classe dominante”, formada pelo empresariado industrial dotado de alto volume de capital econômico. Bourdieu situa os intelectuais e os profissionais liberais na “fração dominada da classe dominante”, em função do maior peso que o capital cultural possui, frente ao econômico, na composição do seu volume global. Na região dominada do espaço de classes, a pequena burguesia (p.ex., os lojistas e artesãos qualificados) ocuparia a “fração dominante da classe dominada”. Finalmente, a “fração dominada da classe dominada” englobaria os operários não qualificados e os trabalhadores rurais.
Em momento posterior da sua obra, o sociólogo francês lutou para afastar as conotações substancialistas da noção de “classe dominante” ao substitui-la pela ideia mais relacional de “campo do poder” (Bourdieu, 1996: 244), que teria ele próprio seu “polo dominante” (p.ex., burguesia industrial) e seu “polo dominado” (p.ex., intelectuais). Bourdieu também veio a discutir em maior detalhe o que chamou de “capital social”, conceituando-o como o acesso estratégico do agente a círculos sociais de influência e apoio (p.ex., a amizade com um político poderoso ou com o dono de um veículo popular de comunicação). Por fim, ao tratar do capital simbólico, o autor não pretendia designar um tipo específico de capital, mas, sim, a forma que todo e qualquer capital assume quando se exprime em marcas distintivas de autoridade e prestígio: “glória, honra, crédito, reputação, notoriedade” (Bourdieu, 2001: 202). Nesse sentido, a operação de qualquer espécie de capital está fundada sobre o reconhecimento social de sua legitimidade como instrumento de poder, isto é, de sua transmutação em capital simbólico. Assim, como bem lembra o bourdieusianíssimo Louis Pinto, o capital simbólico é “a forma suprema do capital e de validação de todas as espécies de capital” (Pinto, 2000: 159). Nessa espécie de testamento intelectual que é o livro Meditações Pascalianas (2001 [1997]), o próprio Bourdieu situou a ideia de “capital simbólico” no coração de sua “antropologia filosófica”, isto é, do retrato mais geral da condição humana que ele extraiu de um prolongado percurso de estudos sociológicos. Nesse retrato, o ser humano é habitado por um anseio existencial de sentido e justificação para a própria vida, anseio que só pode ser aplacado, segundo Bourdieu, pelos índices de reconhecimento coletivo que manifestam um “capital simbólico”. São tais índices que propiciam aos seres humanos o sentimento “de contar para os outros, de ser importante para eles, logo para si mesmo, e [de] encontrar nessa espécie de plebiscito permanente que vêm a ser os testemunhos incessantes de interesse – pedidos, expectativas, convites – uma espécie de justificativa continuada para existir” (ibid: 294).
Jogos e estratégias
Nessa altura do campeonato, não deve haver muita dúvida sobre a metáfora predileta de Bourdieu para aludir à dinâmica do mundo societário, a saber, a imagem do jogo. Nos jogos sociais, como em quaisquer outros, não vale tudo. Os movimentos dos jogadores ocorrem em um espaço delimitado por determinadas regras – por exemplo, as regras da comunicação, da argumentação e do confronto de ideias no campo científico. Tal como nos jogos esportivos, no entanto, tais regras não especificam a totalidade das manobras possíveis dos jogadores, mas somente o espaço no qual estes podem agir, de modo estratégico e mais ou menos criativo, para conquistar seus objetivos. De acordo com o mestre francês, diversas práticas no universo social podem ser objetivamente retratadas como estratégias de acumulação de lucros materiais ou simbólicos, ainda que os indivíduos não as concebam conscientemente como tais. A inconsciência dos agentes quanto ao caráter estratégico de suas próprias ações pode resultar de autoengano, “recalque” ou “denegação” (p.ex., os participantes de um ciclo de dádivas ocultam de si próprios o grau em que suas condutas são autointeressadas ou um escritor esconde de si mesmo seu desejo de consagração pelos pares), mas também, mais simplesmente, do desconhecimento das consequências objetivas de suas práticas para o cenário social em que estão imersos: “as ações encerram…uma ‘intenção objetiva’…que ultrapassa sempre as intenções conscientes” (Bourdieu, 1983a: 15). Com efeito, é com base nessa última ideia que Bourdieu, em uma obra de 1989 intitulada “A nobreza de estado”, caracteriza como estratégias de classe (e de frações de classe) as práticas que agentes desenvolvem em âmbitos tão variados quanto relações de amizade e matrimônio, percursos educacionais ou profilaxia do corpo. Para ficar em apenas um exemplo: a alta probabilidade de que membros da classe dominante venham a casar-se entre si contribui objetivamente para a reprodução dessa classe como um todo, mesmo que este não seja, é claro, o objetivo dos cônjuges tomados um por um. Quando boa parte desses casais investe na qualificação educacional de seus filhos, de modo a favorecer suas chances futuras no mundo do trabalho, a consequência combinada de tais investimentos é, para todos os efeitos práticos, similar a mais uma estratégia coletiva de reprodução da classe (ainda que, como é óbvio, cada um daqueles casais tencionasse investir apenas nas chances dos seus próprios filhos).
Uma economia geral das práticas
Para além dos capitais que estruturam o espaço de classes, cada um dos campos relativamente autônomos que emergem na modernidade (religioso, artístico, jurídico, científico, jornalístico, da alta costura etc.) possui uma forma particular de capital que é instrumento de prestígio e autoridade no seu interior. Os capitais acumulados em um campo só podem valer em outros quando submetidos às suas “taxas de conversão” específicas, as quais explicam por que agentes prestigiados em um campo frequentemente não conseguem transferir tal prestígio para outros. Por exemplo, a prosa de um acadêmico pode ser lida como sutil e complexa no seu campo, mas soar como palavrório incompreensível para um editor de jornal, enquanto a fluidez do estilo de um jornalista pode ser interpretada como falta de rigor científico entre acadêmicos. Bourdieu oferece como ilustração dessas dificuldades de conversão o massacre simbólico que o estilista Pierre Cardin sofreu nas mãos de críticos de arte “quando…quis transferir para a alta cultura um capital acumulado na alta costura” (Bourdieu, 1983b: 90).
Nas suas análises de domínios culturais frequentemente vividos como “encantados”, tais como a religião, a arte e a ciência, Bourdieu teimou em recorrer a uma terminologia oriunda da economia: lucros, capitais, interesses, estratégias e assim por diante. Sua proposta de uma “economia geral das práticas” (1977: 177) não deve ser confundida, entretanto, com a tese marxista de que a religião, a ciência e a arte sejam fenômenos “superestruturais”, determinados por uma “base econômica” de forças e relações de produção. Em vez disso, o projeto analítico de Bourdieu propõe a tese de que aquelas esferas culturais são, em si mesmas, espaços de uma disputa interessada, dirigida a formas de “lucro” irredutíveis à riqueza material. Os campos científico, artístico e religioso são marcados, mais especificamente, por uma competição em torno de um capital simbólico particular, conferido por tudo aquilo que é passível de garantir reconhecimento, prestígio e autoridade aos seus portadores no interior do respectivo campo.
Como sublinhamos no terceiro post desta série, ao tratarmos da dimensão “libidinal” do habitus, o recurso de Bourdieu à terminologia econômica na análise da arte, da ciência e da religião responde a uma desmistificação da ideologia do “desinteresse”. A indiferença de sacerdotes, artistas ou cientistas aos fins normalmente associados à ideia de conduta interessada, como poder político ou riqueza material, é a contraparte de interesses muito reais nos lucros simbólicos oferecidos nos campos religioso, artístico e científico. Posteriormente, o sociólogo francês fez questão de utilizar, como sinônimos da noção de interesse, conceitos como “investimento”, “libido” e “illusio”. A intenção central destes conceitos é destacar que, longe de serem meros divertimentos, os interesses que levam os agentes a envolverem-se com um jogo social são tão intensamente vividos que oferecem a tais agentes, como sublinhamos acima, uma “razão de ser” (Bourdieu, 2001).
A existência continuada de qualquer campo depende, é claro, da presença de agentes dispostos a investir nas suas lutas. Em outras palavras, cada campo está fundado sobre um tipo específico de interesse ou investimento que o próprio campo contribui para gerar (p.ex., a prolongada trajetória de seleções e treinamentos por meio da qual o campo científico confere direito de participação a um agente). Vimos que o mestre francês dá o nome de illusio a esses interesses particulares a certos campos. A emergência de uma pluralidade de campos na sociedade moderna caminha a par e passo com o surgimento de uma multiplicidade de formas correlatas de illusio. É devido a esse processo que os interesses próprios de um campo são propensos a parecerem insensatos e incompreensíveis para os agentes cuja “educação sentimental”, por assim dizer, os sensibilizou para jogar em um campo distinto: o professor de teoria literária percebe o empresário como um pobre de espírito, incapaz de pensamentos ou aspirações sublimes, enquanto o empresário vê o mesmo professor como um pedante cujos jogos de palavras não possuem qualquer utilidade no “mundo real”.
A autonomia relativa dos campos
A distância radical entre os interesses do professor e os do empresário indica a tendência dos campos a tornarem-se microcosmos autônomos, capazes de gerar formas específicas de subjetividade, ou seja, de habitus. Ao mesmo tempo, nenhum dos campos tem a sua autonomia relativa estabelecida de modo definitivo, pois ela própria está submetida à contenda entre os agentes que investem na conservação das fronteiras vigentes, de um lado, e aqueles que investem na sua remarcação, de outro (p.ex., na sociologia, entre aqueles que advogam uma ciência social nitidamente distinta do jornalismo e aqueles que pregam uma dissolução dessa distinção). As posições que os agentes ocupam na distribuição desigual do capital específico ao campo condicionam suas estratégias, o que tende a engendrar uma polarização interna entre dominantes e dominados. De posse de maiores montantes de capital específico acumulado, os dominantes tendem a produzir estratégias ortodoxas de manutenção do status quo pelo qual são favorecidos. O grupo dos dominados, por sua vez, inclui tanto os jogadores empurrados a uma posição marginal no campo por sua conduta heterodoxa em face dos princípios ali correntes, quanto os agentes recém-chegados a ele. Aos segundos, resta escolher entre estratégias ortodoxas de sucessão dos agentes dominantes e o percurso mais arriscado de empreitadas heterodoxas de subversão do estado de coisas vigente. Como o radical partilhado das palavras “ortodoxia” e “heterodoxia” sugere, o conflito entre dominantes e dominados se desenvolve contra o pano de fundo de uma doxa compartilhada por todos, um conjunto de crenças tácitas sem as quais o próprio campo não poderia existir. Tal “pedestal das crenças últimas sobre as quais repousa o jogo inteiro” (Bourdieu, 1983b: 91) inclui as crenças na existência do objeto disputado (p.ex., a beleza artística ou a verdade científica), no valor desse objeto (p.ex., um interesse tão intenso pela verdade ou pela beleza que leva a cientista e a artista a desinteressarem-se por dinheiro ou poder político) e nas regras básicas de sua busca (p.ex., o assentimento ao princípio de que rivalidades científicas não podem ser resolvidas pelo uso da violência física).
É com base nesse esquema analítico que Bourdieu devota suas energias ao estudo de variados campos e subcampos de produção cultural, os quais vão da literatura à sociologia e da pintura à filosofia. Os produtos engendrados por uma romancista, um sociólogo, um pintor ou uma filósofa são analisados pelo autor francês tanto em termos da doxa própria aos seus respectivos jogos, quanto em termos das posições particulares que tais produtores ocupam nas relações interiores ao seu campo. Em um momento histórico dado, um (sub)campo de produção cultural consiste em um sistema de posições não apenas diferentes, mas diferenciais, no sentido de que cada uma só se define em relação com as demais (Bourdieu, 2003: 119-126). Para o conjunto dos campos, tende a valer uma associação entre posições objetivas na estrutura de distribuição do capital específico e disposições subjetivas para jogar o jogo de tal ou qual forma. Por conta dessa associação entre posições e “tomadas de posição” (prises de position), as visões de produtores diversos no seio do campo (p.ex., a defesa do abstracionismo contra o figurativismo na pintura ou de métodos interpretativos contra o quantitativismo na sociologia) conectam-se às suas localizações nas divisões internas, relacionadas à posse desigual do capital de autoridade simbólica específico ao campo. Assim, para ficar apenas em um exemplo, é muito mais provável que perspectivas heterodoxas no campo científico advenham de agentes recém-chegados, situados em posições dominadas, do que dos veteranos dominantes cujas posições os predispõem à ortodoxia (p.ex., Einstein não formulou a teoria da relatividade especial em um instituto prestigioso, mas nas horas vagas que lhe deixava seu trabalho em um escritório de patentes).
A ênfase sobre a autonomia relativa dos campos de produção cultural na moldagem dos pontos de vista intelectuais é um traço recorrente nas críticas de Bourdieu a perspectivas marxistas. Segundo ele, estas estabelecem uma conexão demasiado direta (“curto-circuito” [Bourdieu, 1989a: 13]) entre produtos intelectuais e posicionamentos de classe (Bourdieu, 1990: 115). Para Bourdieu, em contraste, as influências ideológicas de classe (assim como aquelas oriundas de outras propriedades que atravessam diferentes campos do espaço social, como gênero e raça) só se exercem sobre produções culturais de modo mediado, ao passarem por uma “refração” exercida pelo campo como tal e pela posição particular do produtor no seu interior. Um estudo de caso sobre esse efeito de refração é o livro “A ontologia política de Martin Heidegger” (Bourdieu, 1989). Como uma intervenção sociológica nas discussões sobre os vínculos entre a filosofia do autor alemão e seu engajamento político pró-nazista, o livro mostra que motivos ideológicos relacionados à “revolução conservadora” na Europa do tempo de Heidegger encontraram, na sua obra, uma expressão particular ao campo filosófico, graças à tradução sistemática daqueles motivos nos termos das problemáticas, das referências e dos vocabulários tidos como legítimos naquele campo. Longe de derivar de um cálculo explícito, essa tradução filosófica de orientações político-ideológicas que Heidegger compartilhava com autores como Spengler e Jünger teria sido efeito de um habitus intelectual constituído no próprio campo filosófico e, portanto, apto a pensar espontaneamente nos termos consagrados pela sua história (Bourdieu, 2003, p.124-125).
Conclusão: habitus e campo
Bourdieu encontra a relação entre habitus e campo na resposta aos dois problemas teórico-metodológicos que estão no cerne de sua sociologia. O primeiro deles já foi discutido em detalhe nos posts anteriores: a formulação de uma teoria da prática capaz de combinar as contribuições analíticas de modos objetivistas e subjetivistas de conhecimento do social, superando, ao mesmo tempo, seus respectivos limites. Nosso próximo post versará sobre a segunda problemática central da sociologia de Bourdieu: o desvelamento dos mecanismos de operação do poder simbólico, ou seja, dos processos pelos quais relações de dominação são percebidas como legítimas e, assim, historicamente reproduzidas na prática.
Referências
BOURDIEU, Pierre. Outline of a theory of practice. Cambridge, Cambridge University Press, 1977.
________Sociologia. Coleção Grandes Cientistas Sociais. Organização de Renato Ortiz. São Paulo, Ática, 1983a.
________Questões de sociologia. Rio de Janeiro, Marco Zero, 1983b.
________As regras da arte: gênese e estrutura do campo literário. São Paulo, Companhia das Letras, 1996.
________Meditações pascalianas. Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 2001.
________Questões de sociologia. Lisboa, Fim de Século, 2003.
________A distinção: crítica social do julgamento. São Paulo/Porto Alegre, Edusp/Zouk, 2007.
BOURDIEU, Pierre; WACQUANT, Loïc. An invitation to reflexive sociology. Chicago: Chicago University Press, 1992.
PETERS, Gabriel. “O social entre o céu e o inferno: a antropologia filosófica de Pierre Bourdieu”. Tempo Social, 24, 1, 2012.
PINTO, Louis. Pierre Bourdieu e a teoria do mundo social. São Paulo, FGV, 2000.
Para citar este post
PETERS, Gabriel. Bourdieu em pílulas (5): introdução à teoria dos campos. Blog do Sociofilo, 2020. [publicado em 14 maio de 2020]. Disponível em: https://blogdolabemus.com/2020/05/14/bourdieu-em-pilulas-5-introducao-a-teoria-dos-campos-por-gabriel-peters/
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